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8 COISAS QUE MINHA FILHA APRENDEU VIAJANDO

Esses dias fui surpreendida ouvindo, de relance, um amigo falando para outra pessoa sobre “crianças que nem tinham idade para viajar para o exterior”. Essa frase, escutada numa passagem e obviamente compreendida fora de seu contexto, permaneceu comigo todos esses dias.

Como chegava o dia das mães, e eu participava da minha primeira blogagem coletiva of life, resolvi que seria um bom ponto de partida responder a este meu amigo. Mesmo que ele tenha querido dizer exatamente o oposto, ao menos responder à parte da conversa que ficou gravada na minha mente.

No final das contas, o tema “coisas que o meu filho aprendeu viajando” – veja bem – veio bem a calhar.

1. Ela aprendeu que tem gente diferente por todo canto

E que o mundo não é esta bolha de gente igual a gente, em que a gente se coloca quando circula apenas entre os amigos, ou nas poucas cidades que visita na rotina. Pois dona Sara aprendeu que chinês cospe no chão e tira foto de montão, aprendeu que vietnamita tem fala mansa e que na Tailândia se come muita pimenta. Aprendeu que na Alemanha faz muito frio, mas os parquinhos são geniais, e que na Itália se come muita massa e as pessoas são calorosas

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Apresentação no centro de Chiang Mai

É muito fácil nos esquecermos que o que aqui é normal, do outro lado do mundo não é não: que a grande maioria das coisas é mera construção cultural. E, se é construção cultural, não é “certo” ou “errado”. É apenas diferente.

2. Ela aprendeu que línguas são barreiras pífias quando se fala em amizade

Se eu pensar em quanta gente aqui no Brasil já deixei pelo caminho simplesmente porque morava longe – como se alguns quilômetros fossem barreira para uma amizade.

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Pois a Sara fez amizade – sozinha, veja bem – com duas atendentes do hotel em Xi’an. Mas foi tanta amizade que, nos 10 dias que passamos por lá, ela acordava de um salto na cama e descia para dar bom dia. Com as meninas chinesas, ela aprendeu números, jogou, almoçou, jantou, lanchou, brincou, ajudou nos afazeres do hostel, fez outros amigos entre os demais hóspedes chineses.

Tudo isso, sem falar uma palavra em chinês – e muito pouco de inglês.

Depois, na Tailândia, descobriu uma outra Sara loirinha holandesa, na beira da praia. Mais uma amizade de pleno entendimento, sem nenhuma barreira de linguagem.

3. Ela aprendeu que cantar a plenos pulmões é a melhor forma de empoderamento

Na nossa viagem mais recente, saiu do Brasil uma menina muito tímida, que mal e mal sorria quando conhecia uma nova pessoa.

Voltou de lá uma cantora decidida, que solta os pulmões onde quer que esteja, e se acostumou a rodopiar ao som de “Livre Estou” onde quer que seja. Meio da rua, supermercado, loja de roupa, não importa: se queremos nos divertir, é só começar a cantar. Nosso super repetório inclui até Marisa Monte, Tim Maia e Legião Urbana – um pouco de tudo para afastar o tédio das caminhadas longas e das viagens de ônibus intermináveis.

Assim, música em música, a pequena Sara foi se soltando, ganhando confiança e aprendendo que não tem nada de errado em abrir um sorrisão e falar com pessoas novas que aparecem pela sua frente. E que ela tem sim, muita coisa boa dentro de si para mostrar ao mundo.

4. Ela aprendeu que provar comidas novas não tira pedaço

Até porque, né? Chegou um momento que só tinha comida nova. Era vai ou racha.

Eu já contei aqui que a alimentação foi a esfera em que a Sara nos deu mais trabalho: toda a frustração dos primeiros dias, por não estar mais no Brasil, ela carregou na comida. Depois, quando a viagem começou a ser bem legal, cheia de parques e praias, as coisas foram se acalmando. E ela começou a comer.

5. Ela aprendeu que as muçulmanas são princesas. E que as tailandesas também. E que homens também podem ser princesas se quiserem!

Tirando algumas poucas sociedades, ainda vivemos num machista mundo machista. Nossa primeira escala, em Doha, eu queria resignificar para ela o que veria pela frente – mulheres não simplesmente com véus, mas cobertas com burcas que até os olhos tapavam. Disse que ela veria as princesas árabes.

Imagina a felicidade de uma criança ao ver milhares de princesas andando ao seu redor!

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Apresentação de dança típica em Mae Hon Song, Noroeste da Tailândia

Quando estávamos fazendo a volta de Mae Hon Song, na Tailândia, encontramos um festival cultural na capital do estado. Foi um prato cheio para ver a dança tão delicada de homens e mulheres, e questionar com ela quem deve usar maquiagem, se homens podem dançar, o que uma mulher pode fazer…

6. Ela aprendeu que as religiões individuais devem ser respeitadas – mas que cada um também deve pensar por si só

Nós somos uma família dos tempos modernos: marido espírita e mulher ateia. Até a viagem, o maior contato com religião que a Sara tinha era na escola (infelizmente, preservar a laicidade ainda é problema no interior do Brasil) e no Pai Nosso que o pai rezava com ela de quando em vez.

O meu papo mais filosófico sobre o que existe e o que não existe – enquanto eu trabalhava 10h por dia – não acontecia.

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Distribuindo moedinha por moedinha no Wat Pho, o Templo do Buda Reclinado na Tailândia

Pois a viagem foi a oportunidade para expô-la a outras religiões, e também para conversar sobre a não-religião. Para questionar se existem mesmo seres superiores, ou se cada um deve seguir a sua vida, buscar ser bom e caridoso, e não se importar mais com céu ou inferno.

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Sentadinha, sem apontar os joelhos nem os pés para as imagens – mesmo as mais curiosas delas…

Os reflexos sinto agora: hoje mesmo, indo para a escola, batemos um papo sobre a existência de Deus e do Papai Noel. Disse-me a pequena – que, para alegria do pai, acredita – que não podemos ver Deus porque ele fica bem, bem, bem, bem longe.

E a mãe, mesmo ateia, orgulha-se do raciocínio lógico e da capacidade de argumentação da menina de 5 anos.

7. Ela aprendeu que pessoas vem e vão. E que tudo bem

Quando chegamos na Alemanha, em Giessen, a Sara não conhecia minha prima Clarissa, nem seu marido Pedro. Pois saiu de lá com lágrimas nos olhos, querendo ficar – até que chegou em Rothenburg ob der Tauber, e fez uma mega amizade com a Nadine, nossa host.

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Brincando em alemão com a tia Cissa

Ter viajado por tanto tempo mostrou à Sara que aprender a dizer tchau é tão importante quanto aprender a dizer oi. Com o passar da viagem, a Sara foi entendendo que, apesar de ser triste dizer tchau a um amigo feito, existia a promessa de um amigo novo no próximo hotel em que parássemos.

Foi uma forma de ela entender também a separação dos amiguinhos da escola de Lins, de quem ela até hoje sente muita falta. Entender que algumas pessoas saem da sua vida e dão espaço a outras foi um aprendizado importantíssimo naquele momento.

8. Ela aprendeu que pessoas de todas as idades viajam

Ao viajar aos 4 anos para a Ásia, aos 3 anos para a Itália e ao 1 ano para São Miguel dos Milagres, a Sara impregnou na sua existência que criança pode sim viajar. Aliás, criança deve viajar! Viajar é a melhor forma de se livrar dos preconceitos, como já dizia o Mark Twain.

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Pois em Bangkok, dona Sara conheceu o lado inverso da moeda: encontramos essa linda senhora, 70 anos, viúva, paulista, que nos viu falando em português e logo nos chamou. Olhei para ela e logo pensei – deve estar de excursão.  Pois dona senhora me surpreende ao dizer que tinha vindo para a Tailândia na cara e na coragem, estava ficando num hostel, num QUARTO COMPARTILHADO COM OUTRAS 9 PESSOAS! Que saía todos os dias para passear por ali com aquela turma, e que dentro de alguns dias tomaria o ônibus para ir a Siem Reap ver o complexo Angkor.

Disse-nos: “eu viajo e a minha irmã compra gatos!”. Adivinha se não viramos fãs imediatos?

E isso, só o que eu posso contornar e descrever em palavras!

É infindável o que aprendemos em viagens, e justamente quando somos crianças, pequenas esponjas, mais maleáveis, é que deveríamos viajar mais! Depois, adulto, pensamento formado, é bem mais difícil que o aprendizado entre na matéria dura em que se transforma a nossa cabeça.

Por isso, é tão importante que os pais tenham consciência e exponham mais seus pequenos à diversidade. Que tenhamos um ambiente multicultural nas nossas escolas, que sejamos acolhedores com aqueles que são diferentes de nós e que possuem vidas opostas ou complementares às nossas. Em todas essas oportunidades, nas viagens e nas diferenças, nossas crianças estão aprendendo.

E quando crianças aprendem MAIS do que os adultos, o mundo progride. Não é? É a motriz do progresso – a nova geração tem que saber mais do que a anterior.

Portanto, meu querido amigo, qualquer a criança tem idade de sobra para viajar para o exterior. Na verdade, para o bem do mundo, elas já deviam nascer viajando!

 

Ps.: você é que tá meio velhinho para começar a pensar nisso só agora 😉

 

 

O que minha filha aprendeu viajando

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37 comentários sobre “8 COISAS QUE MINHA FILHA APRENDEU VIAJANDO

  1. Que post mais lindo Cris, uma lindeza só! Lindo de ver as crianças descobrindo o mundo e expandindo seus horizontes. A riqueza dessas experiências é inquestionável! Criança tem sim idade para viajar e ir onde quisermos ir com elas. Parabéns pelo seu dia, pela filha linda e pelas belas viagens em família!

  2. Cris que guriazinha mais linda! Se eu soubesse escrever bonito assim, teria escrito o que tu escreveu kkk meu post tá muito parecido com o teu! As experiências do Lipe na nossa viagem de 5 meses foram muito parecidas com as da Sara! Feliz dia das mães!

    1. Oi, Cláudia! Obrigada pelas suas palavras 😉 agora acabou o almoço e darei aquele round nos posts que não li ainda, começando pelo seu! Ontem vi o seu post sobre os perrengues de ir à Bolívia, e me identifiquei muito: a gente também vive se metendo sozinho nas coisas, e às vezes dá errado kkkk

  3. Cris,

    A Sara vai ter que ensinar ao Álvaro que provar outras comidas não tira pedaço kkkkkk
    Está um ponto, que sofremos muito aqui em casa.
    Mas pelo menos, quando ele tem fome, se obriga a comer o que tem.

    Um ótimo dia das mães!
    beijos,

    Fran @ViagensqueSonhamos

  4. Cris, que post lindo e que texto inspirador!! Acreditando cada vez mais que as memórias de viagem podem ser um legado inestimável para deixarmos para os filhos… Agora… provar diferentes comidas: isso ainda é utopia aqui em casa!!! rsrs
    Beijos!!!

    1. Oi, Liliane!!! pois é, a baixinha é notória provadora, mas claro que tem seus momentos 😉 às vezes só quer sorvete também.
      Se eu for pensar na minha própria infância, sem dúvida as memórias de viagem me marcaram positivamente – e só posso pensar que farão o mesmo com os nossos filhos 😀

  5. Cristina,

    amei o texto,fala muito do que eu penso (parte escrevi, parte ficou só na cabeça), achei tua filha uma fofa fazendo amizades mundo afora!!!

    Parabéns pelo texto, pelo princípios, pelas viagens!

    beijos Pati

    1. Oi, Patrícia! acredita que ainda não li todos os textos? Vou passar no seu agora mesmo!

      Obrigada por passar por aqui e deixar sua mensagem, eu já adoro o seu blog desde muito antes de pensar que um dia viria a escrever também sobre viagens com crianças 😉

  6. Cristina, seu texto me deixou com um leve suor nos olhos (quem disser que eram lágrimas, estará mentindo…rs).
    Eu nem sei dizer qual minha parte preferida! Que criança linda (por dentro e por fora) a Sara é e só consigo imaginar que era será também uma adulta incrível que te deixará muito orgulhosa!
    Parabéns pelo post!
    Ps.: Não é só no interior que é difícil manter a laicidade não viu?! Aqui em pleno Rio de Janeiro (capital) também é complicado o negócio e me deixa um pouco irritada. (E eu não sou atéia).

    1. oi, Aline!
      Desculpe a demora na resposta… é, eu recorri agora à rede pública, e tivemos sucesso. nada de rezas, cantorias, Bíblia: cada um é aceito da forma que é, sem imposições. Estamos muito satisfeitos.
      Obrigada pelas suas palavras, adorei a sua presença por essas bandas 😉

  7. Cris, que texto mais lindo. Não li todos os posts da blogagem coletiva, mas o seu me emocionou em especial! Porque há conhecimentos que numa viagem podem ficar mais fáceis, mas não são tão difíceis de serem adquiridos daqui, mas os que você destacou, às vezes nunca se adquire sem se entregar de corpo e alma numa viagem – e não a toa são os mais importantes. Parabéns pela filha linda e pelas descobertas que estão fazendo juntas.
    bjs

  8. Oi Cris!
    Uma falta grave, não conhecia vocês, nem o blog, gostei muito, muito!
    Amei o texto, (é aquele tipo de texto que eu gostaria de ter escrito, como disse a Cláudia), o lay out, as fotos e a sua Sara! E você fala de tantas, tantas coisa que me são caras que é de emocionar realmente!
    Parabéns e volto mais vezes para te visitar!
    Beijos!

    1. Márcia, que falta, que nada! 😉 este mundo de blogs é tão amplo, impossível conhecermo-nos todos!
      o bom destas postagens coletivas é que podemos trocar mais com gente igual ou diferente da gente 😀

  9. Que texto sensacional. Me identifiquei muito. Também sou a favor de viajar com nossos filhos desde pequenos. Excelentes palavras sobre a música e a força que uma canção nos proporciona.

  10. Muito linda sua filhota Cris, gostei muito de ver que Sara experimenta novos sabores. Aqui em casa também fazemos questão de levar os meninos em lugares típicos ou a restaurantes que ofereça, culinária diferente, queremos muito que eles apreciem a boa comida sem restrições.

  11. Olá! Diversidade também foi um dos aprendizados da nossa filha em viagens! “Cantar a plenos pulmões”, adorei essa! Gostei muito também do tom do post. Certamente vou acompanhar seu blog com atenção! Abraços!

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