halong bay vietnam

REENCONTRANDO AS ENERGIAS EM HALONG BAY

“Que tipo de vaso sanitário tem no barco?”

Esta foi a primeira pergunta que eu fiz para a moça da agência de viagens que ficava em frente ao nosso hotel em Hanoi, sobre o barco que fazia o passeio por Halong Bay. A moça me olhou como se eu fosse uma moradora de Júpiter e disse “normal”.

Continuei: “mas é de sentar?”.

Ela me disse, “não”.

“Então não poderemos seguir”.

“Como assim, de sentar?”, agora já eram duas moças me olhando com olhos esbugalhados.

Procuro na internet uma foto de um vaso sanitário “de sentar” e mostro: “assim”.

As duas começam a rir: “claro, é assim o vaso sanitário!”.

Informo, a título de reduzir o ridículo da coisa: “estávamos na China, e por lá há muitos banheiros de agachar – meu marido diz que nem entra no barco se for assim o vaso”.

Elas se fixam em mim, olhar bem sério, chamando a atenção para o fato de que a China e o Vietnam têm relações estremecidas pelos últimos 2000 anos: “aqui no Vietnam só existe este tipo de vaso sanitário. Em todas as casas. Nas cidades, pelo menos. Não se preocupe.”

Questões de vaso sanitário resolvidas, fechamos negócio com a agência Lily. Após uma busca no Tripadvisor, resolvi testá-la já que havia uma promessa tentadora de bons preços. Assim foi: reservamos uma cabine dupla no Imperial Legend*, um barco pequeno, com apenas 14 cabines. Havia sido meu aniversário há poucos dias, e o meu presente – a viagem como um todo não conta! – era um passeio de 2 noites. Uma noite no barco, uma noite numa praia.

No dia combinado, faltando 5 minutos para esgotar o tempo informado pela agência – e o Fernando já começando a prever o início de todas as catástrofes, a Terceira Guerra Mundial, o colapso do Google, a Nutella não ser mais produzida e o próprio fim da espécie humana – o guia aparece na porta e pergunta por mim.

Nasce um novo mundo: em um segundo, uma mente ansiosa pode simplesmente esquecer tudo o que havia pensando antes.

entrada poro turístico halong bay vietam
O porto turístico de Halong

Uma jornada de 4h nos separava do porto. É impressionante que algumas pessoas façam este passeio dormindo apenas uma noite em Halong Bay: é quase o mesmo que sair de São Paulo, dormir uma noite no Rio, e voltar no dia seguinte. Mais tempo na estrada e dormindo do que efetivamente passeando. (Tem gente que faz este passeio num bate-e-volta. No mesmo dia. Pergunto-me, por quê???? Por quê???)

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No caminho, seguindo a tradição chinesa, é claro que fizemos uma parada. Neste caso, contudo, reforçando que o Vietnam é um destino muito mais acessível e que pensa no negócio turismo, uma parada limpa, grande, cheia de banheiros novíssimos. Mais um ponto para o Vietnam.

No caminho, percebo que há duas brasileiras sentadas à frente do Fernando. Quando a Sara e eu começamos a cantar as músicas do nosso repertório – começando com Legião Urbana e terminando em Frozen – uma delas se espanta e vira para trás.

O restante do pequeno grupo é formado por vários espanhóis, um irlandês e um alemão passeando juntos, um casal inglês de meia-idade, um casal sul-coreano jovem, duas amigas altas, magras, estilo modelo. O guia se auto intitula “Mr Lucky”: aparentemente seu nome real é difícil demais para os ouvidos ocidentais. Ele tenta ser engraçado, porém falta-lhe o charme descontraído e a coragem de se expor dos que realmente conseguem fazer graça.

Chegando no porto de Halong, é questão de esperar o nosso barco transfer chegar. Fazia um calor fortíssimo, sem vento. Milhares de turistas se aglomeravam na sombra, esperando seus barcos – há uma diversidade de barcos de todos os tipos para quem deseja passear por Halong.

Imperial Legend Cruise barco halong bay vietnam
Olá, amigos! Vocês não sabem o quanto estamos felizes em ver-lhes também!

O barco de transfer chega logo. 10 minutos depois, já avistamos o definitivo.

Veja bem, esta é uma viagem em família de um casal e sua filha que estão usando suas reservas. Quartos simples, ônibus caquéticos, comida de rua, é o que temos. Este, contudo, é um barco de categoria “superior”: depois de milhares de comentários ruins para os barcos mais baratos, decidimos não nos arriscar em Halong Bay.

Então, não estamos esperando, mas acontece: há pessoas nos esperando na porta do barco. Quando entramos, tambores tradicionais tocam. Alguém se encarrega das nossas malas (ufa!). Somos convidados a subir a escada para fazer o check-in e uma chuva de pétalas de rosas nos recebem (sim, o irlandês falastrão reclama disso também em determinado momento. Sim, tem gente que NUNCA fica feliz). Quando recebemos as chaves, somos agraciados por um upgrade para um quarto triplo.

Imperial legend quarto vista barco cama halong bay vietnam
A cama da Sara e a vista – lindíssima – do nosso quarto no barco

Pode haver felicidade maior do que esta? Vamos dormir bem!

Enquanto o restante do barco se prepara para o almoço, subimos ao deck. O barco começa a roncar, rumando para o ventre da Baía de Halong, e a paisagem ao redor começa a mudar radicalmente. A pequena velocidade já é suficiente para fazer o vento bater no rosto e reduzir a opressão do calor. Vejo que há barcos de todos os tipos ao redor: imensos, cheios de gente, menores e ainda mais exclusivos do que o nosso.

halong bay vietnam barco mar baía montanha
Halong bay descortinando a sua glória

Fico feliz por termos escolhido um barco que podíamos pagar, mas que também nos dá uma experiência mais exclusiva.

O guia logo resolve que, por sermos brasileiros, temos que fazer amizade: uma boa decisão. As meninas que estão conosco são paulistanas, e fazem um giro bem amplo pelo Sudeste Asiático – já estiveram na Tailândia, no Camboja, na Indonésia e em Cingapura, para onde voltam após este tour em Halong.

uma barquinho não turístico em halong bay
uma barquinho não turístico

A comida começa a ser servida e ela é boa. Mr Lucky faz um discurso um pouco longo para a nossa paciência, mas ao menos há um ventilador para amenizar o calor. O barco navega lento, mas quando abrimos a janela, é velocidade suficiente para entrar uma brisa.

Como todos os tours que já fiz na vida, este aqui também é lotado de atrações (quem viaja de tour em tour é o turista mais cansado que eu conheço): vamos andar de caiaque, depois ir a uma fazenda de pérolas e só depois seremos deixados à nossa própria sorte para curtirmos o barco.

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Na hora dos caiaques, mais um ponto para que viaja com a única criança do barco: passamos à frente de todos e podemos escolher o melhor caiaque para nós. Sara se senta entre minhas pernas, Fernando nas costas, pegamos o remo.

remo parede rochosa crustáceos halong bay
Desistindo de remar

E tentamos remar.

Sério. Apenas tentamos.

Porque a pessoa aqui tem zero coordenação motora. Quer dizer, tenho apenas o suficiente para usar as mãos e os pés ao mesmo tempo ao dirigir – e isso porque, né, anos de treino.

Isso quer dizer que, digamos, quero virar para a esquerda. Um caiaquista bem medíocre saberia que deveria começar a remar do lado esquerdo direito (viu? até na hora de escrever).

halong bay barco água mar caiaque vietnam
A moça só me olhando e pensando: que turista tonta que não sabe remar

Mas, queridos, o meu limite é mais embaixo da linda de mediocridade: remo convicta do lado esquerdo. E consigo brigar com o Fernando, dizendo que sim, eu estou certa.

Arrãm. Parabéns. Troféu de tonta para mim.

Até que ele me dá uma chamada e mostra os outros. Pacificamente remando como se houvessem nascido sobre o caiaque. Indo para a esquerda e para a direita, sem esforço (e a gente se matando).

Devo finalizar esta parte dizendo que o passeio não foi um total desastre porque, eventualmente, o Fernando consegue me fazer escutar. Assim, vemos as laterais daqueles penhascos cheias de pequenos crustáceos, caranguejos pretos, bonsais. Lindos.

água-viva vietnam mar halong bay
Uma água viva vietnamita

A visita à fazenda de pérolas cultivadas é interessante – ainda mais quando se vai com crianças. Imagino que os adultos, imbuídos do cinismo que parece crescer com a idade, a consideram razoavelmente chata.

fazenda pérolas cultivadas halong bay vietnam trabalhadores
Lugarzinho mais ou menos para trabalhar

A Sara, contudo, se encanta ao ver as ostras e suas pérolas. Somos grupo pequeno e conseguimos ver tudo de perto: há gente que tenta a sorte abrindo uma ostra (mas não acha pérola alguma).

De volta ao barco, tanto mar à volta, e nenhum banho. Já são quase 5h quando o guia nos libera: aqui vocês podem pular! Não penso duas vezes, apenas me jogo naquele mar verde lindo!

Que sensação. Depois de tantos dias de calor em Hanói, depois de tanto perrengue na China, tanto voo cansativo, tanto ônibus caquético, tanta cama dura, sentir o corpo entrando na água morna da baia de Halong é como entrar de volta no útero da mãe e apodera-se de toda a energia da vida.

A Sara e o Fernando também se jogam (a Sara com uma boia e um coleta salva-vida tamanho infantil) e ficamos ali curtindo uma bem recebida hora de lazer.

Depois do banho, vamos ver o sol se pôr atrás dos penhascos e jantar, com direito a show pirotécnico do chef. Então subimos ao deck superior e conversamos horas com nossas amigas brasileiras, a Sara brincando com uma delas.

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Um drink para deixar a noite ainda mais suave…

A manhã nasce com o motor do barco ao lado do nosso quarto, e seguimos para visitar uma caverna – a Hang Sung Sot, uma das maiores ali da região, que era usada pelo povo local para se proteger no inverno e nas tempestades.

Passeio bacana, mas muita. muita. muita. gente.

Na volta, nos despedimos das amigas brasileiras e seguimos em um barco menor para o novo destino: o Nam Cat Resort, mais uma pousada à beira-mar do que um resort com todas as regalias imaginadas. Para nós, que estávamos habituados com hotéis muito simples, tranquilo – mas vocês já sabem o que o irlandês falastrão achou da praia.

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Acordando cedo para fotografar 🙂

Enquanto o guia manejava todo mundo para comer no restaurante – torturando a todos com o calor escaldante e sem vento que fazia por lá…

…eu e a Sara trocamos de roupa e nos jogamos no mar.

Água quente.

Por essa não esperava: a baía à frente do resort era tão rasa, que a água era quente como… você sabe, aquele líquido que sai do seu corpo 😛 Mas tudo bem, melhor água quente que água nenhuma, não é?

menina jogando bola halong bay areia futebol criança
Jogando bola na beira da praia

O almoço não foi lá essas coisas, mas comemos. Aproveitamos a tarde para brincar na água, caminhar até a ilha em frente ao resort, jogar futebol, tomar uma cervejinha olhando o mar… essas coisas ruins da vida.

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Cai a noite e um caiaquista – mais talentoso que eu, navega pela baía em frente ao resort

À noite, churrasco de peixe. Sentamo-nos com um casal argentino que mora em Israel. Lá pelas tantas, um menino brasileiro que mora em Londres veio conversar conosco: estava com sua namorada inglesa que se mudou para o Vietnam. Fico pensando que, de fato, o mundo é assim, interligado, misturado, complexo – e só tem pretensão contrária, de que todos são iguais a si, quem não viaja.

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Nova noite cai sobre a Baía

No dia seguinte, acordamos cedo para fotografar, tomarmos café da manhã, fazermos o check-out e voltarmos para o barco.

A volta para o porto é marcada pelo relato do irlandês falastrão sobre o resort, mas sobre isso já falei aqui, e por uma aula de rolinhos primavera com o guia do segundo dia (por algum motivo, perdemos o Mr Lucky – para nossa sorte!).

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Um barco de atitude navegando por Halong Bay

Na nossa mesa senta-se outros destes casais de dupla cidadania: uma vietnamita magricela e seu namorado australiano, que está por aqui dando aulas de inglês e tenta me convencer que, apesar de toda a informação ao contrário, não, não há monções em novembro em Hué e Hoi An.

Ele nos ajuda a calcular quanto seria uma corrida de táxi até Tam Coc, na província de Ninh Binh, para onde pretendemos ir saindo de Halong, mas fica abismado com o preço (e ainda acha que nenhum taxista terá interesse em fazer a viagem de 180km). Assim, não precisamos voltar a Hanói para somente então seguir viagem: um dia de viagem ganho.

O novo guia, contudo, resolve o problema: nos informa que há um ônibus local que podemos pegar em frente ao porto, para o qual devemos pagar (a ele) cerca de VND 200.000 por pessoa – o que é menos de um terço do valor calculado pelo aplicativo para o táxi (são uns R$ 35 para uma viagem de 5 a 7 horas, dependendo do humor do motorista, como nos explica o esperto guia).

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Um mercado de pescado flutuante

Vida acertada, saímos ao deck para engolir o máximo possível da paisagem ao redor. Vilas flutuantes de pescadores marcam território e fazem um contraste com a solidão em que vivem aquelas rochas. Parabólicas assinalam que o “progresso” chegou por ali. Há cachorros nas pequenas vilas sobre boias.

Quando o barco de transferência, menor, se aproxima do porto, cruzamos com as pessoas que estão começando a mesma viagem que, para nós, acaba ali.

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Reconheço-me naqueles rostos.

Vejo a minha própria face interrogativa e despreparada para a imensidão de belo que viria me inundar nos dois dias seguintes.

Suspiro pela última vez anda em água, deixando o ar cheio de umidade do porto, misturado com aquele cheio de madeira e óleo do barco, entrar profundamente em mim.

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A beleza entrando por todos os poros

Aquele barco tinha um vaso de sentar.

Ele também tinha uma máquina de criar apaixonados pelo Vietnam.

*o link vai para o Imperial Classic, que é da mesma empresa. O Legend ainda não está no Booking.

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5 comentários sobre “REENCONTRANDO AS ENERGIAS EM HALONG BAY

  1. Maravilhoso post!
    Faz tempo que sonho com Halong Bay. Infelizmente não deu para fazer junto com o último roteiro. Mas na próxima estaremos lá!
    Beijos

    1. oi, Fran!
      Obrigada, que bom poder contar com uma leitora tão importante 😉
      Olha, se forem num momento próximo, te dou uma dica: quando descer do barco em Halong, não siga para nenhum outro lugar. Fique por ali mesmo, ou vá até Haiphong, pegue uma lancha e fique uns dias em Cat Ba – 2 noites é muito pouco neste paraíso!

  2. vcs são SENSACIONAISSSSS, AMEI,,, PARABÉNS PELO POST,,, MARAVILHOSO,,, mas eu queria ficar 3 dias em Halog bay,,,, será que é caro,,, num barco mais ou menos,,, rsrsrrsrs, e vcs foram para o Laos,,, tb queria ir,,,, bom, mas muto obrigada por todas informações,,!!!!

    1. Oi, Angelita, que bom que você gostou! Olha, realmente os barcos não são muito baratos, mas valem cada centavo – e tem para todos os bolsos.
      A gente não foi para o Laos, se você for, volta aqui para contar a história!

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