COMO REALMENTE CONHECER HANÓI – E SE APAIXONAR

Como você conhece uma cidade?

Você a encaixa no seu roteiro de viagem? Você lê a respeito da sua história? Você visita seus museus? Vive nela por um tempo? Busca os livros que se passam por lá? Assiste aos filmes gravados ali?

É, pode-se conhecer uma cidade assim. Porém sairemos dela com uma imagem de turistas. Apenas passamos brevemente sobre ela – mesmo quem decide viver numa cidade por um tempo, sempre será forasteiro, caso não ultrapasse aquela barreira inicial do “eu não sou daqui”.

Pode-se dizer que uma pessoa que passa 10 dias em Xi’an não gosta de ver as coisas superficialmente. Eu gosto de entender o local onde vou, gosto de explorar o que faz daquela cidade única entre tantas outras que são mais ou menos iguais, mais ou menos parecidas. O que faz San Gimignano diferente de Siena não são apenas as torres, ou o Pálio. O que faz uma cidade diferente da outra é o povo – quem construiu as torres é diferente de quem organiza o Pálio.

Então, como turistas – porque não deixamos de ser turistas a não ser que nos mudemos definitivamente – como realmente conhecer Hanói, esta cidade tão imensa, tão caótica, tão ruralmente urbana? Fiquei intrigada quando aportamos por lá, por onde começar?

chapeu conico vendedora fruta rua
Olha, uma ideia é ligar para a moça da foto: aposto que ela conhece Hanoi como ninguém!

Você busca no Tripadvidor, Lonely Planet, Wikitravel – e as opções não parecem tão óbvias. Depois de Templo da Literatura, do Museu de História Militar, do Museu de Etnografia, o que tem para FAZER nesta cidade? Aparece o lago, o próprio Quarteirão Antigo onde estávamos hospedados, alguns templos.

Nenhuma Torre Eiffel. Nenhum Palácio de Buckingham. Nenhum Coliseu.

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Mesmo assim, milhares de turistas na rua. Por que tanta gente vai a Hanói?

Quando isso acontece, o turista incauto passa desavisado. Ele vê recomendações que preenchem um, no máximo 2 dias da sua agenda e segue para o próximo destino, sem sequer arranhar o que havia de interessante por ali.

Quando isso acontece – um destino sem grandes atrações óbvias – a atração é ver como aquela gente vive, o que come, como se veste. Que trabalhos prefere, onde compra. Que relação tem com seus filhos e com seus amigos.

Numa cidade como Hanói, a atração é o seu próprio povo.

Apenas o dilema: como se conectar com ele, se tínhamos apenas 5 dias para ficar por ali?

 

ORGANIZANDO UM TOUR COM O HANOI KIDS

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A resposta veio no próprio Tripadvisor: a atração mais bem votada de todas é um tour gratuito com o Hanoi Kids – uma organização que une turistas em busca de guias a jovens universitários que querem treinar o inglês. Um pacto perfeito: enquanto uns aprendem mais sobre a cultura e a história local, outros aprendem inglês e se preparam para o futuro.

O trâmite é bem simples: basta mandar um e-mail para a organização, informando o dia e a duração do tour desejado. Eles tentam acomodar as vontades dos turistas com a disponibilidade dos guias e lhe retornam (no nosso caso, rapidamente, mas depende do volume de turistas) informando se será possível atender ao pedido.

O nosso tour começou pontualmente às 9h, com duas moças, Srta. Tran e Srta. Pham, nos buscando no hotel. Já no e-mail, eu havia informado quais eram os nossos interesses (conhecer mercados, a cultura local, talvez algum museu) e ali no lobby apenas fizemos um plano mais detalhado.

 

ONDE COMPRAR TUDO EM HANÓI: UM MERCADO DE RUA

vendedora de rua hanoi vietnam rambutam chapeu cônico

 

Começamos caminhando até um mercado de rua. Quem, em Hanói, é na rua mesmo! Quando perguntada se eles não preferem comprar em supermercados, a Srta Tran fez uma cara de espanto: claro que não! Aqui na rua é bem mais fresco e muito mais barato.

Na rua, vende-se de tudo: o mercado que visitamos, contudo, era de comida. Lá pelas tantas, enquanto me explicava sobre as tradições religiosas do Vietnam – adora-se aos ancestrais, e um dos animais sagrados é a tartaruga – vemos uma mulher com um cutelo na mão, quebrando um animal em quatro partes. Era uma tartaruga!

tartaruga comida de rua mercado vietnam hanoi
E lá se vai mais uma tartaruga sagrada!

Pergunto: como podem matar uma tartaruga se ela é sagrada? “Ah, é que é outra espécie”, me responde a guia.

 

AS CASAS DO MUSEU DE ETNOGRAFIA

Do mercado, seguimos para o Museu de Etnografia – para quem não sabe, é um museu que trata de culturas e etnias. Há um museu de Etnografia muito bacana (porém bem mais certinho) em Amsterdam. Em Hanói, é uma chance de conhecer a multiplicidade de culturas que formam o Vietnam, num único lugar.

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Mapa da área externa do Museu de Etnologia – e uma guriazinha de guia!

Autêntico? Talvez não 100% – mas um bom modo de enxergar o que forma este país tão intrigante.

O ponto alto do museu é certamente as casas das diferentes tribos que habitam o país. O Vietnam, assim como a China, é obcecado com a questão das minorias étnicas: eles sabem direitinho quem pertence a qual etnia e quantas elas são. A etnia majoritária por ali é Viet/Kinh, porém existem outras 53 que se espalham pelo território – com costumes, crenças, hábitos, casas, alimentação, completamente diferentes umas das outras.

No passado não tão remoto, o Vietnam era uma sociedade matriarcal – característica comum a quase todos os povos que vivem dos ciclos da agricultura, e não da caça ou domesticação de animais. Na etnia Cham, ao casar-se, o homem vinha morar com a família da mulher, e o novo casal passava a ocupar o melhor quarto da casa, deslocando todos os demais casais ao redor dela. Os pertences mais importantes eram guardados num baú, que ficava ao lado do quarto da matriarca, mostrando quem mandava por ali.

Outro aspecto importante da cultura: é uma sociedade que se organiza em comunidade. Há pelo menos um exemplo de Casa Comunitária que visitamos, a famosa casa do povo Bahar.

A Casa Comunitária deste povo é construída sobre palafitas para proteção contra animais selvagens e para criar os animais domesticados no pátio embaixo dela. Sendo alta, é visível à distância e pode ser usada como localizador. Um fogão rudimentar de pedras torna a vida perigosamente mais fácil dentro da casa de madeira e palha. Ela é usada como ponto de encontro, realização de reuniões, festas comunitárias, rituais, e não como moradia.

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Outra casa singular é casa longa do povo Ede – que pode chegar a até 100m de comprimento! Os Ede são também uma sociedade matriarcal – a casa vai sendo formada pela adição de novos quartos conforme as mulheres se casam. Uma escada especial para mulheres (devidamente sinalizada, para glorificar o feminino) indica que ali é a casa de uma matriarca.

Os povos que vivem da agricultura – e onde a punitiva e restringente cultura católica não chegou – lidam com o sexo de forma muito mais fluida do que os caçadores. Eles dependem do sexo – a agricultura é a vida, e a vida nasce do sexo. É bem fácil entender o que os bonecos da cultura Giarai ensinam: para engravidar, una-se um homem a uma mulher. Esta é uma TUMBA expressando o ciclo da vida – além de sexo, as esculturas tratam de outras fases: o trabalho, a reflexão, a tristeza.

Uma casa sem janelas, feita de barro, perfeita para enfrentar o frio e o calor: esta é da etnia Hani, que vive tanto no Vietnam, quanto na China.

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Casa da etnia Hani: preparada para as intempéries e não acreditando muito nessa coisa de janelas!

Antes de sair do museu, ainda vimos duas tradições importantes para o povo do norte do Vietnam: o teatro de fantoches na água e o teatro de sombras. A meninas nos explicaram que, durante o tempo em que o arroz está encharcado, os agricultores ficam muito ociosos – e começaram a usar este tempo para criar histórias de fantoches encenadas sobre os próprios campos alagados.

Uma apresentação típica – não aquela curtinha que encenam para turistas ao lado do Lago Hoan Kiem – pode durar 3 horas! Com o vivente dentro d’água.

 

ALMOÇO TÍPICO DE HANÓI – COM DIREITO A CACHORRO

Fazia um calor danado – mais de 38°C – e todo aquele passeio ao ar livre estava pesando demais. Decidimos parar com os museus por hora, e seguir para a parte gastronômica do passeio! Pedimos que nos levassem a um restaurante bem típico entre os hanoianos.

Entramos num táxi – com um delicioso ar condicionado – e elas nos levaram ao Xôi Yen.

O restaurante estava abarrotado de locais, o que sempre é um bom indício! A comida – Xôi – é típica de um país que passou por tantas guerras: comida caseira, cheia de “sustância”, fundo de muito arroz, carne enlatada fazendo as vezes de proteína, ovo frito, porco cozido, tudo misturado, para ser devorado de colher direto da tigela funda. De acompanhamento, uma salada de pepinos em conserva e uma Coca-Cola para descer tudo.

Não foi a comida preferida da viagem, mas foi bem interessante para ver os hábitos: mesas baixas, galera se acotovelando, cachorro esperando o seu taco de comida, franguinho cozido aguardando o uso à temperatura ambiente. E uma fila imensa de gente esperando o “para levar”.

 

TOMANDO CAFÉ COM OVO

Saindo dali, um café – afinal, o Vietnam é o segundo maior exportador de café do mundo, atrás apenas do Brasil, não? Só que leite, necas. O Vietnam tem búfalo, mas poucas vacas: leite é caro por aquelas bandas. Então, quando os franceses invadiram e reivindicaram seu “direito” sobre aquelas terras – direito outorgado por quem, procura-se até hoje – o leite se tornou ainda mais escasso. A solução foi apelar para uma outra proteína animal, mais disponível, mais barata, e igualmente deliciosa: o ovo.

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Vai um café com ovo aí?

O Vietnam toma café com ovo e é simplesmente demais!

Está mais para uma gemada do que ovo apenas, preparada em batedeira, cremosa e fofa e dourada, que é jogada sobre o café quente. Fomos ao Café Giang, onde a iguaria nasceu e posteriormente foi aperfeiçoada para eliminar o sabor agressivo de ovo – deixando apenas a suntuosidade, corpo e delicadeza da mistura. Como se fosse um tiramisu de beber.

 

VIETNAM: COMUNISTA E FELIZ DA VIDA!

Barriga cheia, o sol já dando sinais de cansaço, fomos caminhando até o hotel. As meninas nos acompanharam pela beira do lago, onde trabalhadoras adornavam com flores um grande painel sobre o comunismo.

comida de rua vietnam hanoi galinha caramujo
Antes: vai mais uma galinha aí? Ou quem sabe um caramujo te interessa?

Este é um país que tem orgulho de ser comunista, e tem visto grande vantagem no sistema ultimamente: apesar de ainda ser pobre, o Vietnam vem mantendo uma taxa de crescimento do PIB entre 5 e 8% nos últimos 10 anos.

trabalhadoras decorando tema comunista rua vietnam hanoi
Sente o trabalho

Quer ver como o Brasil se comportou no mesmo período?

 

Chegando próximo ao hotel, uma parada num café – nada local, bem turístico – para sacudir o calor e comer uma sobremesa (realmente, não sei como ainda cabe alguma coisa na barriga!).

 

COMIDA TAMBÉM É CULTURA –  MINHA COMIDA PREFERIDA NO VIETNAM

À noite, um jantar a algumas quadras do hotel, no famoso Pho 10.

pho comida vietnamita hanoi vietnam
Apresento-lhes: PHO!

Como ainda eu não falei da minha comida preferida no Vietnam?

Pois bem, o pho é uma sopa feita com macarrão de arroz, ervas e carnes. Ao contrário das sopas ocidentais, onde que se cozinha tudo junto com o caldo, até que vire uma papa irreconhecível sem nenhuma textura, o pho é apenas levemente cozido. O caldo é preparado separadamente e apenas na hora de servir os ingredientes são recolhidos e mergulhados para um cozimento leve naquele mundo de temperos.

Quando levados à boca, os brotos de feijão estão crocantes. A massa é firme e elástica. A carne tem sabor (e há versões com carne malpassada para os colegas vampiros!). A cebolinha é verde e ainda exala seu aroma forte.

O pho é um mundo de conforto, rapidez de serviço, paz para as papilas, tigelas vaporizadoras de sabor e aroma, e aquele barulhinho de aspiração de coisa gostosa que só quem já tomou sopa fazendo chuuuup -chuuuup entende.

 

FAÇA COMO OS HANOIANOS: PASSEIE À NOITE

Depois do jantar, ainda demos uma esticadinha no lago Hoam Kiem – apenas para pegar o pessoal fazendo Tai Chi Chuan (ou a velha e boa aeróbica) às suas margens.

Como no dia anterior, a cidade se acendeu à noite. O calor dá espaço a uma gente trabalhadora, carinhosa, gentil, de fala mansa e que já passou os seus bocados. Mesmo assim, um dos povos mais felizes que encontramos pelo caminho.

Nessa hora, mais uma vez, fomos surpreendidos por este povo: um menino de cerca de 9 anos abordou o Fernando e começou a puxar assunto em inglês. Logo em seguida, era uma turma de meninos e meninas o cercando, todos querendo mostras o quanto sabiam de inglês.

menino vietnamita homem brasileiro encontro aperto de mãos
Um encontro de brothers!

Imagina a festa quando souberam que éramos brasileiros! A mãe do menino me disse que o ensina a falar inglês desde os 3 anos – e agora ele já tem um inglês bem funcional.

 

balões i love you hanoi vietnam
I love you, Hanói!!!

Dificilmente teríamos sentido Hanói como realmente é, caso não estivéssemos com o Hanoi Kids. Através das duas moças que nos acompanharam, vimos uma cidade por um outro olhar, descobrimos coisas que levaríamos meses para conhecer.

Mas, principalmente: começamos a entender esta cidade tão complexa, espirituosa, ingênua e vibrante que é Hanói.

 

Cuore Curioso

 

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Estou escolhendo o tema para o texto da semana que vem, e desta vez são vocês que irão decidir: sobre que lugar vocês querem que eu escreva?

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