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O QUE MUDOU APÓS O SABÁTICO: PAREI DE VER TV

Pensei que seria interessante escrever um contraponto ao texto em que eu anunciei que estávamos saindo em um sabático em família. Responder – até a mim mesma – se aquelas expectativas de mudança de fato haviam se realizado. Afinal, estou aqui dizendo que viajando a gente aprende: nada mais justo do que trazer alguns dos aprendizados concretos na minha própria vida.

Além de termos voltado do sabático no final de dezembro, estamos desde meados de março morando em um apartamento só nosso. Portanto, após termos ficado uns 3 meses morando com meus pais, a nossa vida começa a formar seus novos contornos, a ter limites do que é nosso e do que não é, a ter o ritmo que nos representa e no qual nos vemos. Boa hora para reconhecer em si o que de fato mudou após o sabático.

Quem acompanha o Cuore Curioso sabe que vendemos cerca de 70% das nossas coisas antes de viajaremos, num grande bazar via Facebook. O bazar foi um momento muito mais emblemático do que o previsto, e através dele descarreguei toda a incerteza e angústia dos primeiros dias após a demissão. Em cada post no evento, o humor e o sarcasmo ajudavam a vida a retomar um sentido que era meu. Após anos me escondendo, novamente com aquele medo infantil “do que os outros vão pensar”, eu finalmente era eu mesma na vida real e online. Além de me purgar de muita coisa física de que eu não precisava, eu também me purgava daquele medo introjetado nos últimos 2 anos.

Uma das coisas que vendemos foi a TV. Vendemos TV e DVD. Passamos um tempo com a família antes de viajar – com TV – e ficamos 111 dias viajando, basicamente sem ver TV. Quando voltamos, mais um tempo com a família – com TV – e então apartamento novo. Sem TV. Que ainda não compramos. E ficamos pensando se um dia iremos (a questão ainda não está fechada).

A questão é que o impacto desta (in)decisão tem sido tão grande na minha vida, que eu reluto a cada dia em toma-la. A cada dia, é um novo empecilho encontrado para decidir se compramos, ou não. Saboreio com prazer este novo eu sem TV.

Acontece que eu nasci dentro de uma TV. Lembro bem de acordar mais cedo do que todo mundo em casa, ligar a TV e ver a Xuxa na Manchete. Passava tardes inteiras vendo filmes bobinhos após a escola. Na adolescência, chegamos a ter mais de 4 TVs em casa – na cozinha e na sala de jantar, nos quartos, na sala.

A primeira vez que encontrei alguém que me disse que via pouca TV, me peguei pensando “mas o que ele faz em casa?”.

Era isso: não concebia minha vida em casa sem uma TV.

Quando engravidei, com todo aquele cansaço dos primeiros meses, a única coisa que pensava, após o trabalho, era me esticar no sofá para ver TV. Aliás, sofá na minha casa nunca foi para sentar e conversar, mas sim para deitar e ver TV.

E então veio o sabático. Vieram 111 dias sem TV (até porque, se eu quisesse ver TV, seria em vietnamita. Ou chinês. Ou tailandês. Que eu ainda não entendo.).

E, no retorno, me vi não me importando mais tanto com TV. Ainda assim, o efeito de ficar sem TV veio mais claramente apenas quando nos estabelecemos aqui, neste apartamento do qual escrevo agora, num domingo, olhando para a plantação que fica do outro lado da rua, imersa numa neblina espessa de julho, apesar de já ser meia manhã.

Este texto, no final das contas, é sobre não ver TV. E é, ele mesmo, um fruto de não ver TV. Acaso uma TV estivesse ligada, texto nenhum haveria.

Algumas pessoas vêm aqui em casa e se espantam quando comento que não temos TV. Elas entram, sentam, conversam por um tempo, e em algum momento falam sobre algo “que passou na TV” – ao qual são alertadas de que não sabemos quase nada a respeito. Olhares espantados circundam imediatamente a pequena área da nossa sala, para confirmar por si só o que acabaram de ouvir. Quando comprovam que não, não existe uma TV camuflada por ali, logo vem a pergunta: “mas como é ficar sem TV?”.

 

1 – ESTAMOS MUITO MAIS PRODUTIVOS

Este é o aspecto mais óbvio do “ficar sem TV” – como comentei antes, este próprio texto só é possível porque não há uma TV aqui. Eu era daquelas que queria olhar apenas um pouquinho, mas acabava passando 2h em frente à tela. 2h em que eu descansava – e descanso é uma coisa muito boa – mas em que também não produzia nada.

Hoje, se tenho um tempo livre, eu produzo algo. É um negócio abrindo, um texto para criar, um vídeo, e-mails para responder, louça para lavar, chão para varrer, roupa para guardar, yoga para fazer. Nunca na minha vida eu havia produzido tanto, e não me sentido cansada por fazê-lo.

A chave hoje está em produzir bastante nos horários mais nobres do dia (para mim): pela manhã e no início da noite.

Fico pensando em todos aqueles anos em que eu chegava do trabalho e me plugava à TV. E se tivesse usado 1h por dia – apenas – para criar um plano B? E se tivesse aberto uma consultoria, um site, uma loja online, um negócio de papinhas, ou qualquer outra das ideias que tinha à época, mas que protelava porque “não tinha tempo”?

 

2 – DEIXAMOS A DEPENDÊNCIA DA FAXINEIRA

Desde que o Fernando e eu fomos morar juntos, faxineira uma vez por semana em casa era sagrado. Quando achava que era rica, junto aos outros símbolos de status que eu colecionava, faxineira duas vezes por semana.

Sem TV, agora, tiramos 2h por semana para limpar o chão da casa. Eu aspiro e ele passa o pano – em revezamentos. (Escolhemos um apartamento bem pequeno também por isso.) 2h que poderíamos também ter tirado das nossas semanas aos finais de semana, sem qualquer problema, não fossem as ideias idiotas a respeito de status que tínhamos, e a TV sugando nossas vidas para dentro dela.

E, é claro, milhares de vocês limpam suas próprias casas todos os dias e semanas. Não tem nada de muito novo a respeito disso – mas o impacto que a ausência de TV teve sobre o que eu considerava “tempo útil” na minha vida foi imenso e ajudou a colocar a mão (nessa) massa.

 

3 – ESTAMOS UM POUCO MAIS IMUNES ÀS MANIPULAÇÕES DA GRANDE MÍDIA

Esta já estava em declínio aqui em casa quando deixamos a TV aberta e passamos para a TV por assinatura – porém era uma ilusão. É claro que quando alguém escolhe por você o que você verá, o poder de decisão não é mais seu. Mesmo que você tenha o controle remoto na mão, e possa mudar de canal, no outro canal também haverá alguém decidindo por você o que está aparecendo.

Isso foi de fato providencial neste início de 2016, quando o público foi tão obviamente – para quem não via TV – manipulado a querer a saída da Presidenta. Sem ver TV, para acompanhar as notícias, não tínhamos outra saída a não ser procurar diversas fontes na internet. E, como temos a sorte de amigos de todos os lados desta questão, amigos que apoiavam o impeachment e amigos que eram contra, amigos anarquistas, amigos alienados, podemos ver a situação por uma ótica apenas nossa.

Formar a nossa própria opinião. Enxergar os movimentos da sociedade. Como o mais recente – no qual os que apoiaram o impeachment se alegram de não terem votado em Temer, como se não soubessem quem iria assumir a Presidência pelo movimento que eles mesmo apoiavam, querendo lavar suas mãos da tontice que foi tirar Dilma do poder.

Mais uma peça nesse grande jogo de manipulação, que podemos ver claramente quando decidimos o que lemos, o que vemos, o que ouvimos.

A profusão de Hanói
A profusão de Hanói

 

4 – ESTAMOS LENDO MAIS, OUVINDO MAIS

A retomada da leitura foi um dos grandes pontos para mim. Com dois sites, eu vivo boa parte do meu tempo na internet, e acabava levando esta internet até a cama, antes de dormir. Na minha vida pré-internet, contudo, a cama era o reduto dos meus livros, era quando eu retomava este hábito tão meu e tão importante para mim. Ler antes de dormir era também o meu ritual para aquietar a mente e preparar-me para o sono.

Acontece que a dupla TV + internet teve um impacto imediato na minha capacidade de leitura. Com o primeiro smartphone, deixei de ler livros, para ler a tela de um celular – o que também é leitura, os colegas hão de concordar, porém de outro tipo.

Passar as páginas, ler ao seu passo, cheirar suas folhas, encontrar pequenos erros, exigir que os olhos não avancem ao final da página para poder saborear a história como o autor quis, aos poucos. Coisas que só lendo livros fazemos.

Pois sem TV – e com a mudança do perfil do meu trabalho – o espaço da internet aos poucos está ficando para o dia, e eu volto a reservar aquelas horas finais da noite para saborear a língua escrita.

Também, escutamos mais música. Porque eu posso, tranquilamente, escrever este texto enquanto toca um samba no rádio – mas não encontro concentração nenhuma com uma TV ligada.

 

5 – E O MAIOR BÔNUS: NÃO FAÇO A MENOR IDEIA DE QUE NOVELA ESTÁ PASSANDO

Já faz tempo que eu não vejo novelas – não que seja absolutamente contra este modelo brasileiro de dramaturgia.

Mas é claro que impõem valores que eu não compartilho. Mas é claro que fazem apologia a marcas sem que isso seja declarado como propaganda. Mas é claro que têm uma fórmula maniqueísta, cheia de ganchos para o próximo capítulo. Mas é claro que escolhem músicas em inglês “da moda” para a trilha sonora, mesmo que o significado da música não faça nenhum sentido na situação escolhida (quem se lembra de “Sexed Up” e “Someone Like You” serem usadas como tema para casais apaixonados?).

Mesmo com TV por assinatura, eu era inundada pela cultura novelística, sem fazer esforço para tal. Volta e meia a hegemonia Globística entrava outros canais a dentro, e não havia o que fazer senão saber que havia uma novela nova. Quem era eu que não via novela, ao lado de tanta gente cujo programa era justamente aquele, todas as noites? O que EU assistia?

Bom, agora fica fácil. Não vejo TV. Nenhuma. E isso já responde a todas as dúvidas.

 

Existem outros aspectos, mas estes me parecem os mais fundamentalmente afetados pela ausência de TV em casa. Ah, estamos mais felizes também: o que será que a TV tem a ver com isso? 😉

 

E você? Como está a sua relação com a TV? Ela manda em você, como mandava em mim?

E o que dizer de quem está substituindo a TV pelo Youtube e Vimeo? Será a mesma coisa? Conta para mim nos comentários.

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4 comentários sobre “O QUE MUDOU APÓS O SABÁTICO: PAREI DE VER TV

  1. Oi, Cristina, bacana seu post, e respondendo suas perguntas – eu tenho duas TVs, uma na sala, outra no quarto, mas nunca vejo a da sala, e raramente a do quarto, quando ligo é para algum filme ou série no Netflix, que prefiro ver na tela maior, e não no computador. Por ver pouco, entendo perfeitamente seus comentários sobre livros, leitura à noite, tempo que se aproveita melhor.
    Eu ainda estou usando mal meu tempo, porque administro a vida e a casa de mamãe, que tem 90 anos e já está meio senil, precisa de cuidadoras, mas estou aprendendo aos poucos a priorizar o que está fora das telas – e novelas, e a tal rede golpista, já não vejo há décadas.
    Grande abraço, que a nova casa traga mais alegrias, e você continue inspirando outras vidas às mudanças necessárias.

    1. Vera, querida, super obrigada pela companhia de sempre! Eu vejo também que devemos ser bons conosco: você está cuidando da sua mãe (e que tarefa linda), então esta é a prioridade. Todo o resto é adendo, inclusive limpar a casa, produzir, ler, etc etc etc. Olhar-se com empatia e compaixão também é importante no processo 🙂 boa sorte aí, e obrigada mais uma vez por estar presente aqui no Cuore Curioso!

  2. Não tenho TV aberta, nem a cabo. Minha TV é uma smart, então usamos para jogar videogame, assistir Netflix e o Youtube. No início eu e meu marido não cogitávamos cancelar a TV a cabo. Mas depois de passar 3 meses somente pagando, sem assistir um dia, resolvi cancelar. Os familiares sofrem quando vem para nossa casa, especialmente os idosos, já que não estão familiarizados com essa forma mais moderna de séries/vídeos do Youtube.

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