HOI AN: VENCENDO A MONÇÃO NA CIDADE MAIS CHARMOSA DO VIETNAM

Se você já considerou uma viagem para a Ásia, já ouviu falar das monções. As famigeradas chuvas intermináveis são o pior pesadelo de um plano de viagem, principalmente se for uma viagem mais longa como a nossa. É quase impossível escapar de uma monção, e no Sudoeste Asiático, cercado de água por todos os lados, elas acontecem basicamente o ano inteiro. Tem monção em novembro, fevereiro, março, outubro, dezembro: ao gosto do freguês. É só buscar um pouco na internet que o colega vai encontrar bastante material sobre o assunto.

Esse era o nosso maior dilema: justamente quando chegávamos ao Vietnam, começava a monção da parte central do país (onde estão Hué e Hoi An). E monção no Vietnam quer dizer chuva, muita chuva. Algumas inundações. E mais chuva. Algo que não combinava muito com os nossos planos.

Acontece que havíamos sido encantados por uma história de amor contada lá na Alemanha. Sobre uma cidade vietnamita tão incrível, tão maravilhosa, que fez nosso amigo ir embora e voltar no mesmo dia. Ficar por lá por 12 dias. Chegando ao Vietnam, lhe mando uma mensagem: que cidade mesmo era essa tão incrível, que você passou seu aniversário dormindo em um salão de eventos?

Hoi An.

Estávamos hipnotizados por Hoi An. Como poderíamos estar a algumas horas de uma tal cidade envolvente, e não ir? Essa angústia nos torturava: olhávamos os mapas de monções, que indicavam que não era o lugar para estar naquele momento. A eles, juntávamos a experiência de Hué: chuva, chuva e chuva no segundo dia, tinham deixado a experiência bem complicada.

Aí entra a tecnologia, bendita seja ela. Google Weather nos alerta que, em dois dias, haverá sol em Hoi An. E o sol irá se manter por alguns bons dias – decidimos num impulso trocar a ida aos túneis dos vietcongs por uma passagem no ônibus-leito até a próxima parada.

Hoi An, aqui vamos nós!

 

PRIMEIRO DIA EM HOI AN

Chegamos em meio à chuva média, ainda esperançosos de que o dia seria de descobertas. A pousada – The Full House – tinha a mais alta pontuação no Booking, e mesmo assim um quarto triplo, com banheiro privativo e sacada (sim, sacada) custava apenas USD 21. Com café da manhã. (Vocês têm ideia de quanto é isso hoje? 66 dinheiros brasileiros.)

Para melhorar, ela ainda oferecia bicicletas para os hóspedes. Gratuitamente. Sério.

A pousada fica situada em uma zona residencial de construção francesa, com ruas amplas, pavimentadas, canteiro central. Uma pincelada de civilização combinada com paz após a ruralidade de Tam Coc e a muvuca de Hanói.

Chegamos no hotel, deixamos as malas e dispensamos as bicicletas para o almoço. Aquele lugar era tão silencioso, tranquilo, arrumado e – me julguem – parecido com o ocidente, que sabíamos que poderíamos levar o tempo que fosse. Poderíamos ficar por ali bastante tempo e fazer as coisas com calma.

Rá.

Lembra das monções?

Pois almoçamos tranquilamente num restaurante recomendado pelo hotel e pegamos o caminho de volta. Para sermos atingidos pela realidade: chuva torrencial, ventos fortes. Corremos até uma instalação precária (que depois saberíamos que era a rodoviária) e ficamos esperando o mal tempo dar uma trégua, enquanto que a parte masculina do Casal Cuore esbravejava sem fim a sua frustração por ter concordado com esse plano de enfrentar as monções.

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Mal sabíamos nós que a chuva estava apenas começando no almoço!

Acabou o primeiro dia. A chuva continuou até a noite e ficamos presos no quarto. Por sorte, havia uma criança na pousada – e a Sara se divertiu bastante brincando com o menino e andando de motoca. Eu aproveitei para escrever e começar a leitura de Cisnes Selvagens, o que começou a me fazer entender e colocar em perspectiva tudo o que havia visto na China no mês anterior.

 

O VERDADEIRO PRIMEIRO DIA EM HOI AN

Que foi o segundo dia. Mas vamos considerar como primeiro, porque por melhor que seja, quarto de hotel é tudo igual depois de 60 dias de viagem.

A previsão ainda era de chuva, então resolvemos fazer nosso tradicional passeio de reconhecimento – o que fazemos em quase todas as cidades que visitamos e consiste em colocar o pé na rua e caminhar. Neste caso, de bicicleta, porque a experiência anterior já os tinha mostrado que a cidade era grande e a chuva era muita.

Dando aquele rolezinho esperto 😉

Rumamos ao centro antigo de Hoi An, um pouco sem direção, apenas para entender a cidade. Conforme nos aproximávamos, a arquitetura e o traçado das ruas denunciava que estávamos entrando em uma região que havia parado no tempo.

Como Paraty. Hoi An é a Paraty vietnamita.

A comparação é simples de entender: ambas são cidades portuárias situadas na foz de um rio. Ambas foram relevantes por centenas de anos, fazendo a conexão entre o interior do país e as rotas marítimas.

Hoi An, contudo, por muito mais tempo – desde o século 7 d.C., a região era um porto fluvial do comércio de especiarias. Ao contrário de Paraty, contudo, que era dominada pelos portugueses, Hoi An era um símbolo da globalização já no século 15, com japoneses, portugueses, dinamarqueses e indianos fazendo assentamentos por ali.

Como Paraty, Hoi An também foi preterida em função de uma outra cidade portuária –  Đà Nẵng – por volta de 1700 – o que contribuiu para a sensação de atual de “volta ao passado”. A cidade perdeu a sua importância comercial e reduziu a taxa de modernização. Perdeu a população da época, ganharam a população e os turistas atuais.

Um dos principais atrativos do centro é a Ponte Japonesa – uma ponte coberta, com pagoda ao lado, construída pelos japoneses, que une os distritos japonês e chinês da cidade. Parabéns para nós por conseguir tirar fotos sem muitos turistas chineses preenchendo a tela 😉

Apesar de ter bairros mais chiques e hotéis de luxo, Hoi An ainda é uma cidade de gente humilde, que compra comida de rua, e vai à feira todos os dias. Uma volta de bicicleta e já podemos ver exemplos desse contrate tão típico de países em desenvolvimento.

Hoi An é uma cidade de água. Ela não apenas brota do céu, sob forma de chuva, mas está por todos os lados, permeando a arquitetura, o transporte, a alimentação.

Após perambular meio a esmo pela cidade, a fome apertou. Tentamos um ou dois restaurantes para – mais uma vez – decidir comer na rua. Uma panqueca deliciosa de banana, parecida com a que encontramos em Hué, fez as vezes de almoço. Ao lado, ficava o mercado central.

Como já disse antes, sou a Dona Xepa em viagens – amo visitar mercados – e na rotina também. Comprar em feiras faz parte dos meus hábitos desde que ia criança para Tramandaí e frequentava o camelódromo: e quer lugar melhor para ver como são os hábitos de um povo do que onde ele faz compras?

(eu, particularmente, viajo para ver o mundo e conhecer como vivem as pessoas. é claro que nem todo mundo faz isso – a Disney é prova viva de que está cheio de gente que prefere uma versão pasteurizada do que é a vida. talvez seja por isso que eu já tenha 25 países no meu passaporte, e nenhum deles são os Estados Unidos)

Ao redor do mercado, uma profusão de vendedores de rua oferecendo seus artigos fazia fila. Como já havia visto em Hanói e Xingping, parece não haver fim para o que pode ser vendido estendendo uma toalha o chão.

Em frente ao mercado central, outro. Ainda mais cheio, ainda mais caótico, ainda mais intenso. Um detalhe à parte para as carnes: as mais frescas, ainda vivas. Muita carne à temperatura ambiente – a apenas 15° do Equador.

Refrigeração? Quando muito um gelinho.

O povo do sudoeste asiático definitivamente tem que ser estudado. Algo deve ser responsável pela manutenção da saúde por aquelas bandas – porque, com certeza, a segurança de alimentos passou longe. Talvez seja muita reza.

Com o calor já pesando, e as bolsas cheias de frutas, voltamos ao hotel para finalizar o almoço-lanche. Pausa para um banho, um descanso e um bom livro.

Até então, Hoi An estava se mostrando uma cidade interessante, mas não muito mais bonita do que outras que já havíamos visitado. O calor intenso e as chuvas que não davam trégua também não estavam colaborando muito.

Até que resolvemos sair para jantar e conhecer o famoso Bánh mì kẹp, sanduíche vietnamita de baguete que é tido como a melhor iguaria de Hoi An. Quando esteve por essas bandas, o Anthony Bourdain havia recomendado o restaurante Phuong. Para lá nos destinamos.

Com a fama, o restaurante não tem mais o telhado de lona, e na parte interna já dá para sentar e tomar uma cervejinha. Para quem estava em abstinência de pão na China, entrar no Vietnam foi uma benção.

De barriga cheia, rumamos ao centro. E os atrativos da cidade começaram a ficar mais claros. Enquanto que durante o dia as ruas estão quase desertas – tamanho é o calor, à noite elas estão cheias de turistas, vendedores, cidadãos locais passeando.

Todas as noites, bem no meio do centro, um pessoal fazia uma performance que envolvia teatro e sorteio. O vietnamita é calmo, pacato e de fala baixa, então aquele homem gesticulando chamava muito a atenção.

Lanternas – uma das indústrias mais tradicionais vietnamitas – ajudam a dar um clima de sonho a quase todas as quadras.

O que antes era apenas uma ponte, à noite se transforma em ponto turístico com a iluminação especial. À beira do rio Thu Bồn, para alegria dos turistas, ainda tem gente festejando a Lua Cheia, apesar do festival já ter passado há algumas semanas (as datas de 2015 estão aqui).

Chá misterioso em barraquinha charmosa? Tem, e eu quero. Não é a coisa mais linda?

Começávamos a nos apaixonar. Mal sabíamos, àquela altura, que Hoi An seria a cidade em que mais ficaríamos em toda a viagem (por vontade própria, e não feriados nacionais chineses).

 


O Vietnam foi um dos países mais surpreendentes da viagem! Quer ver os nossos relatos já publicados?

jiuzhaigou galho sobre lago azul outono

Chegando a Hanói: viemos por terra, de ônibus, desde Nanning na China. Aqui eu conto como é a travessia e mostro um pouco da bela paisagem do trajeto.

Hanói: Museu de Belas Artes e Templo da Literatura / Passeio com o Hanoi Kids para entender a cultura e o povo vietnamita (com direito ao museu Etnográfico e café com ovo!)

Halong Bay: fizemos um cruzeiro de duas noites, com uma noite em um resort numa pequena ilha na baía de Cat Ba.

Tam Coc: um dos lugares mais impressionantes de toda a viagem, com rios que cruzam cavernas embaixo de montanhas, e que se podem visitar de barco.

Hué: a Cidade Imperial devastada pela Guerra dos EUA, onde visitamos as tumbas reais mais megalomaníacas desde Xi’an, e fizemos bons amigos latinoamericanos.


O Vietnam foi um dos países que mais nos causou aprendizados e mudanças pessoais. Dá uma olhada no que já foi publicado na categoria Viajando e Aprendendo:

templo budista tibetano china

Está pensando em ir ao Vietnam? Aqui tem 12 coisas que você precisa saber antes de pisar por lá!

Felicidade está nos olhos de quem vê – uma das revelações mais profundas da viagem e que aprendemos durante a nossa passagem pela tal praia paradisíaca de Halong Bay.

Empatia é algo que você pode desenvolver numa viagem a um lugar onde não seja maioria (e o Vietnam é um bom começo!).

Foi em terras vietnamitas que fizemos um balanço dos nossos primeiros 2 meses na estrada.

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