FAÇA, SEM MEDO DAS CRÍTICAS

Certamente, à luz da história, é mais inteligente ter esperança do que ter medo, tentar do que não tentar. Porque uma coisa sabemos sem sombra de dúvidas: nada foi um dia alcançado pela pessoa que diz, “não pode ser feito”.

You learn by living, Eleanor Roosevelt, 1960

 

Críticas são instrumentos poderosos. Incrível como a menor dúvida sobre a nossa capacidade de fazer algo põe em jogo todo o futuro deste projeto.

Dias atrás, uma amiga me pergunta: será que me inscrevo nesta seleção? E se não passar? Terei que conviver para o resto dos meus dias, até que todas as geleiras elevem os oceanos e que os oceanos por fim sequem de calor, até que as cinzas deste Planeta caiam sobre os últimos resquícios do Universo, até que não exista mais nada novamente, a não ser vácuo, com a memória de que não sou tão boa quanto eu penso.

Eu disse a ela: faça, sem medo das críticas.

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Aniversário no quintal de casa: sim, nós podemos

Este é um texto escrito por uma convidada de honra aqui do Cuore Curioso: a Juliane Dias Gonçalves, mãe do Hilton, que vocês irão conhecer abaixo, e também diretora de relacionamento da Flavorfood e editora-chefe do site Food Safety Brazil. A Juliane é uma mãe moderna, que trabalha, mas espera que seu filho tenha uma infância rica e feliz, com presença e sem excessos. Vamos ao texto?

 

Tenho grandes recordações das minhas festas de aniversário de infância: as vizinhas iam para casa e faziam mutirões para enrolar brigadeiros, confeitar o bolo, cortar os sanduíches, rechear as barquinhas ou fazer aqueles palitos típicos dos anos 80: um cubo de queijo, um de presunto, uma azeitona.  Os pais ajudavam a encher e pendurar as bexigas e levavam o aparelho de som para alguma área estratégica. Prendiam com fita crepe, do jeito deles, aqueles enfeites de isopor na parede.

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DEIXANDO UM GRANDE AMOR IR EMBORA

Se você já viveu um grande amor, sabe do que eu estou falando. Invariavelmente, ele foi embora. Ele pode ter lhe deixado. Ele pode ter morrido. Ele talvez tenha simplesmente se derretido para dentro dos segundos do seu relacionamento. Talvez ele tenha virado uma bela amizade, ou um caso de ódio extremo resolvido nos tribunais. Ele pode ter somente desaparecido.

Mas este amor, que você já viveu e não vive mais, lhe deixou. Se você já viveu um grande amor, já sofreu esta perda.   Continuar lendo “DEIXANDO UM GRANDE AMOR IR EMBORA”

Encontrando a beleza dentro do agreste – ou, O que você precisa para se localizar

Só quem se mudou 11 vezes vai entender o que eu digo: é difícil sentir-se parte. Quando você chega numa cidade nova, tudo é estrangeiro (não você, você é local). O resto todo, os semáforos, as árvores, a cor das paredes, a temperatura da cerveja, quantas vezes se brinda: tudo é estrangeiro.

O maior gasto de energia de um local em uma cidade estrangeira é em localizar-se. Morando, não viajando, o local precisa localizar-se o mais rápido possível, sob pena de passar a ser um estrangeiro em breve. Após 11 mudanças, sabemos como localizar-nos, mas às vezes, simplesmente, as coisas não vão como os nossos planos.

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Mãe, por que tem sempre um amanhã? – ou, Não viva de falsas esperanças

Mãe, ali que é o amanhã?
Mãe, ali que é o amanhã?

Esses dias, surpreendendo a mãe como somente crianças de 4 anos fazem – e respondendo à minha afirmação de que amanhã a avó voltaria para casa – a Sara me perguntou: Mãe, por que tem sempre um amanhã?

Estávamos passando uns dias na beira da praia, em Florianópolis, mas tudo o que ela queria saber era: quando verei a vovó? A resposta era sempre: amanhã. Iria demorar.

Como você explica para uma criança o que é o amanhã? O tempo não é facilmente transposto em conceitos simples. Como dizer a ela que amanhã é um dia que ainda não chegou, mas que chegará, com certeza, se ela, tão pequenina, diz que tudo o que aconteceu no passado foi ontem?

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ODE ÀS AMIZADES

Desde sempre, na casa praia, tínhamos os mesmos vizinhos na frente. Durante muito tempo também, tivemos os mesmos vizinhos aos lados e nos fundos, mas na frente é que sempre foram os mesmos vizinhos. Quem passa os verões num mesmo lugar, e sempre retorna para a mesma praia, tem uma experiência completamente diferente daqueles que sempre conhecem um lugar diferente.

Na casa da frente, veraneava uma família. Pai, mãe, duas filhas. A Princesa Daiana, a filha da nossa idade, é uma amiga desde sempre. Não me lembro de a ter conhecido, ela simplesmente sempre existiu. Anos e anos em sequência, a Princesa Daiana era a certeza de muitas aventuras e explorações em Tramandaí – ela, minha irmã e eu erámos um time. Andávamos pelas ruas seguras, brincávamos de tudo, caçávamos girinos e espiávamos as obras das casas novas que iam se estabelecendo naquela zona nova da cidade. Quando compramos uma bodyboard (naquela época não tinha esse nome, era morey boogie mesmo), foi com ela que surfamos pela primeira vez, tomei os primeiros caldos e o derradeiro, que me afastou de vez dos campeonatos mundiais da categoria.

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COISAS QUE APRENDEMOS COM AS NOSSAS 11 MUDANÇAS

Eu devo ter um pé muito inquieto mesmo. Já tinha perdido as contas de quantas vezes havia me mudado, até ter que escrever sobre a montanha de coisas que eu carrego. Foram 11. Conheço milhares de pessoas que moram nas mesmas casas desde sempre, e seus pais moram nas mesmíssimas casas, e seus avós moravam nestas casas também. Há uma beleza nesta estabilidade.

Pois eu me mudei 11 vezes. Desde que nasci, algumas vezes não fui a protagonista da mudança, outras me mudei sozinha, foram 11 novas casas cujas portas abri para me instalar. É um dos números mestres, não? Deve ser por isso que esta última mudança é tão revolucionária na nossa vida. A partir desta mudança, tudo o que considerávamos certo, seguro e posto, cai por terra.

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ESCREVENDO NA AREIA, ESCREVENDO COM ÁGUA

Eu passei a infância, adolescência e a transição para a vida adulta curtindo o verão numa casa de praia que a família tinha em Tramandaí, no Rio Grande do Sul. Quem vai à praia aos finais de semana, ou passa uma temporada por lá, tem uma experiência muito diferente de quem passa um mês inteiro e volta todo ano para a mesma casa. Pensando hoje, é uma experiência existencial, como se todos os anos pudéssemos testar um novo eu, fresquinho, durante os 30 dias que duravam o veraneio.

Na praia, podíamos ser quem quiséssemos. Eu podia ser a menina mandona e emburrada, ou podia ser descolada e maneira e gostar de reggae. Dava para fingir ser popular, ou trocar de religião e contemplar a umbanda. Dava para esquecer a vergonha e dar feliz ano novo para todos os carros que passavam na avenida, ou fazer amizade com os surfistas locais que encontrávamos na beira da praia. Dava para pensar ser uma razoável jogadora de vôlei, e treinar com as minhas amigas para valer. Dava para ser o que eu sempre era, ou simplesmente criar um novo ser que era mais uma possibilidade de mim.

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INICIANDO UMA HORTA – ou, INICIANDO UM NOVO EU

Hoje meu corpo está cobrando o preço de muitos anos na frente do computador e nenhum exercício. Todos os músculos das minhas costas estão doendo, mais alguns da parte de trás do meu braço e descendo da minha bunda até o joelho também há dor. O pescoço mal baixa, tanta tensão acumulada aqui. Tenho bolhas nas duas mãos e ao lado das unhas das mãos há locais doloridos sem uma razão aparente.

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O DIA EM QUE A SARA COMEU MOELA – ou, QUANDO FOI A ÚLTIMA VEZ QUE VOCÊ PROVOU ALGO NOVO?

Aqui em casa temos um combinado com a Sara: todo alimento novo ela tem que provar. E provar não é só encostar a língua, ou comer apenas 1 pedacinho. Provar é comer pelo menos uns dois bocados, de tamanho normal, que permitam a completa sensação do alimento: mastigação, sabores, odores, textura, deglutição.

Se ela não gostar, ok, não precisa mais comer. Naquele dia. Noutro dia, tentamos novamente. Foi assim com alface, grão de bico, tomate cereja. Vai sendo assim com qualquer outro alimento que ela considere novo. Ela foge ainda um pouco, mas de modo geral, prova.

Pois esses dias, na viagem ao Sul, paramos em Curitiba e, apesar da objeção dos nossos anfitriões ao restaurante, fomos ao Madalosso (para quem não conhece, teoricamente o maior restaurante da América). Geralmente, o Casal Cuore foge de tais emblemas, mas era uma segunda-feira, já era 13h e a Sara estava com fome. Madalosso foi a pedida em Santa Felicidade.

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