NEM TODO MUNDO QUER SER COCA-COLA – ou, CADA UM TEM SUCESSO AO SEU MODO

Um casal de amigos acredita na numerologia e estava para escolher o nome do terceiro filho. A segunda, quando teve seu nome avaliado, ganhou uma alcunha: Coca-Cola. Sua combinação nome + data do nascimento, segundo a numerologia, seria suprema.

Uma pessoa tão famosa, popular, bem-sucedida, quanto o doce líquido marrom gaseificado quem vende na garrafa de vidro.

Acontece que eles já tinham um nome em mente, mas – parto normal – não sabiam a data do nascimento. E aí? Esperar a data para escolher o nome? Mudar o nome conforme a data? Manter o nome escolhido e aguentar as consequências?

É claro que a intenção do casal é cercar os filhos daqueles cuidados comuns aos pais: um conjunto de boas ações que prevejam seu sucesso – até na escolha do nome.

Se for pensar, contudo, nem todo mundo quer ser Coca-Cola, não é? Nem todo mundo nasceu para isso e, mesmo quem pode ser, não necessariamente quer.

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Tem muito espaço para as Fantas, sucos de uva, água com gás. Tem espaço até para quem quer ser água pura. Há uma certa normatividade na ideia de que todo mundo tem que ser super bem-sucedido.

Apesar de estarmos cercados por mais de 7 bilhões de pessoas, tendemos a nos aproximar de grupo mais ou menos igual a nós. Se fizemos faculdade, temos amigos graduados. Caso sejamos empreendedores, nos grudamos com aqueles que também abrem suas empresas. Se somos roqueiros, punks, sertanejos ou sambistas: as chances são de que nossos amigos, também.

Daí que, a partir de um momento da vida, só andamos com uma turminha mais ou menos igual a nós mesmos. Fato contínuo, a turminha reforça as ideias que já temos, num círculo vicioso: pensamos algo, nos juntamos a quem pensa igual, encontramos reforço no pensamento da turminha, achamos que aquele pensamento é o certo, o pensamento se fixa e a turminha se une ainda mais ao redor dele.

O que acontece? Passamos a pensar também que a única forma de “ser feliz”, “ter sucesso”, “ser um profissional gabaritado”, “ter uma boa imagem”, “ser um bom pai” ou “mãe” – ou qualquer uma das métricas do sucesso e felicidade pessoal – é a que a turminha aceita.

Se a turminha gosta de viajar: somos felizes e bem-sucedidos se viajamos. Para a turminha da conta bancária polpuda, não tem chance – ou você tem mil dinheiros no banco, aplicados de forma inteligente e rendendo polpudos juros, ou não está bem, tem que fazer terapia. Tem a turminha do carro importado, a turminha da ladeira corporativa, a turminha da Igreja.

Tem turminha para todo lado. Tem turminha de todos os tipos – tem até turminha dizendo que você só é feliz se tiver MENOS coisas (tem também a turminha que diz que se eu escrever MENAS está tudo bem, e o resto são gramatichatos).

São tantas turminhas, não é? Impossível ser Coca-Cola em todas elas ao mesmo tempo.

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Se, num desses momentos mágicos da vida, deixamos uma turminha por outra, vem a revelação.

O que antes era sucesso, não vale mais nada na turminha nova.

Estou passando por isso, de uma certa forma. Formei-me, fiz pós-graduação e fui escalando a ladeira corporativa, até chegar a uma posição de status. Comprei carro importado, um apartamento na planta, casei e tive filha.

Sucesso total: tinha virado uma bela Coca-Cola gelada, daquelas que refrescam a garganta num dia quente de verão. Um copo grande cheio de gelo, com Coca-Cola dentro.

Um pequeno senão – dentro de mim, esta certeza, sem contornos, meio esfumaçada, de que algo não estava certo. Algo me dizia que a minha bebida era outra.

Então, estou trocando de turminha. E estou vendo que, do lado da nova, o que media o meu sucesso antes, não tem tanta valia. No meio em que estou me metendo (ou, intrometendo), ter se formado, cursado este ou aquele curso, tido cargo, carro ou salário, conhecido dono de empresa, pouco vale.

Vale mais, para esta turminha aqui, do pessoal que gosta de ler, de pensar, de entender o que acontece ao seu redor, o quanto eu escrevo – e quão bem escrevo. Vale mais se tenho algo novo a dizer, ou se estou apenas repetindo.

Não sei se um dia dará para ser Coca-Cola aqui: é um teste. Só testando a gente consegue algo novo, não?

Pode ser até que eu não queira virar Coca-Cola por aqui: me apetecem novos sabores a esta altura. Uma água fresca, limpa e transparente tem tido mais saída ultimamente.

É refrescante e revelador perceber que há tantas formas de sucesso. Que você sempre pode recomeçar. Que a vida é sua e está nas suas mãos o poder de decidir se você quer continuar pelo caminho já trilhado, ou se pretende iniciar uma nova picada no meio do mato, desbravando o desconhecido. Enfrentando os mosquitos, as cobras e os arranhões que os galhos baixos te trazem, para encontrar uma orquídea selvagem no final da trilha.

É refrescante e revelador, também, que há gosto para tudo. Eu particularmente, não sou muito fã de Coca-Cola. Tenho amiga vidrada em Fanta e outra que nem refrigerante toma. Como poderia o sucesso ser uma coisa só, se estamos todos sujeitos aos nossos próprios gostos pessoais, às nossas modas, às nossas músicas?

Dentro de tudo isso que a vida vem me oferecendo de oportunidade para repensar meu futuro, há apenas uma certeza: o caminho que leva ao sucesso é o auto-conhecimento. Engraçado pensar que esta certeza vem de uma sementinha de um livro que eu comprei há 1 ano, lá na China, sobre os ensinamentos de Confúcio.

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Confúcio, observando os líderes cheios de vícios de seu tempo, dizia que para governar um Estado, o governante deveria primeiro governar a si mesmo, através de pensamentos e intenções sinceros.

Muita gente me pergunta o que será da minha vida. Há toda uma expectativa sobre qual será o meu próximo grande passo, ou para onde irei direcionar o conhecimento e a experiência dos anos de trabalho.

Acho difícil responder sem antes ter esgotado este momento de auto-entendimento, de saber quais são as minhas intenções. De endireitar o pensamento e conhecer profundamente o que me motiva. Não quero simplesmente repetir o que vinha fazendo. Quero ter certeza, absoluta e profunda, de que o que vier a fazer pela frente é, de fato, a minha Coca-Cola.

O casal meu amigo, como de costume com suas decisões, resolveu por bem manter o nome há muito eleito (eu já sabia que viria um menino com este nome há uns 5 anos!). Que um pouco de incerteza faz bem. Que existe vários caminhos que levam ao sucesso. E que sucesso para um, não é para o outro.

E que quem vai decidir que tipo de sucesso terá será o menino recém-nascido que agora repousa no berço.

 

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4 comentários sobre “NEM TODO MUNDO QUER SER COCA-COLA – ou, CADA UM TEM SUCESSO AO SEU MODO

  1. Com certeza, ser ou não ser uma coca-cola ou ser uma agua da fonte limpa e pura só faz sentido se você é feliz com suas escolhas.

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