Quando eu me inscrevi no vestibular, peguei todos os cursos da UFRGS, risquei aqueles que não me interessavam (tipo Medicina, Matemática e Geologia) e fiquei com alguns para escolher. Ficaram na lista: Engenharia de Alimentos, Ciências Sociais, Direito, Jornalismo. Tal era a minha vontade de ter um emprego, que eu escolhi uma Exata no meio de um montão de Humanas, pois era o que me parecia com maior potencial de emprego.
Bem, mas Engenharia de Alimentos foi eleita, e não era um curso anômalo para mim também: havia um pouco de tudo, mesmo Humanas, no currículo. Formei-me e na sequência vieram o primeiro, segundo, terceiro e quarto empregos. Já se vão quase 15 anos de formatura, e um emprego seguiu o outro, numa fúria constante para não ficar desocupada.
É claro que hoje eu penso de forma radicalmente oposta – faça o curso que explore a maior parte das suas habilidades, pois assim terá a maior chance possível de encontrar um emprego, ou melhor, um trabalho, em que terá sucesso.
Eu escolhi o curso por que ele era plural. É claro que está mais para as Exatas, mas mesmo assim havia uma pluralidade implícita em lidar com alimentos. Há uma relação com o alimento (boa ou má). O alimento é inerente à vida. Há todo um contorno psicológico sobre como escolhemos o que comemos. A história do homem é a história pela busca do alimento. Tem muita Humanas neste curso.
Mas então você entra numa empresa, e ela te diz: “Pesquisadora de P&D”. Ou “Supervisora de Produção”. Ou “Analista de Controle de Qualidade”. E começam as caixinhas. Você começa a não ter mais contato com aquele mundo plural que um dia conheceu. Não importa mais se você foi a melhor aluna do Desenho Técnico, pois você nunca desenhará ou projetará nada. Ninguém quer saber se você canta como um cisne, pois você vai apenas falar pelo telefone com os seus clientes do outro lado do mundo.
Ah, e ai de você de querer explorar essa sua grandiosidade tendo um “NOSSA QUE HORROR” projeto paralelo. Não! Se você tiver um projeto paralelo e ele for sério o suficiente para você ganhar dinheiro com ele, isso quer dizer que você não está dando TODA a sua energia aqui. Ai.
Pois bem, hoje quem me pergunta o que eu faço, eu tenho a lista abaixo para recitar:
- Blogueira (aqui e aqui e aqui)
- Escritora
- Fotógrafa
- Coach
- Palestrante
- Administradora de vendas pela internet
- Administradora de Página no Facebook
- Organizadora e decoradora de festas
- Organizadora de viagens
- Cozinheira
- Engenheira de Alimentos 🙂
Eu sou plural. E você também é, tenho certeza. Mostre toda essa grandiosidade para o mundo. O mundo não precisa mais de caixinhas, o mundo precisa de pessoas super cheias de recursos como você. E eu.
Pois é Cris, mas só vai enxergar isso quem sabe o que quer. As empresas estão fazendo o que é benéfico para elas, te colocar onde você possa dar o melhor suco. Quem entra na caixinha é pq acredita que o melhor, o mais seguro, o que dá mais status, dinheiro, prestígio, etc.
O vestibular é um momento de procurar o que uma coisa externa está chamando (no caso, a tal empregabilidade), mas tem gente que passa a vida a serviço de uma empresa… pós graduação conforme o desejo da empresa, mudanças de endereço, de vida… pelo simples motivo de não saber quem é e pra onde quer ir. E nisso passa uma vida… chega a aposentadoria e aquele alívio de se ter chegado ao um final de semana sem fim!