A HISTÓRIA DO MEU PARTO NORMAL

A grande maioria das mães que eu conheço teve parto cesáreo. Corrijo: a grande maioria das mães da minha faixa etária teve parto cesáreo. A coisa é de tal forma desproporcional (no Brasil) que, quando decidi por um parto normal, recebi todo o tipo de olhares de estranhamento. Mais ou menos como se eu fosse uma gaúcha louca tentando comprar erva mate em Jundiaí às 6h30 da manhã de sábado.
Pera aí. Eu sou.

 Voltando. Eu quase não tinha com quem falar. A minha mãe se lembrava bastante da dor. A minha amiga Fernanda (maravilhosa fisioterapeuta que me ajudou muito no pré e pós-parto) tinha tido parto normal sem anestesia (que não era a minha opção). Outra amiga (Josi), me contou detalhadamente seu parto. A minha sogra também dividiu comigo a sua experiência. Mas basicamente ficou por aí. E é pouco – extremamente pouco considerando que o parto é talvez o maior mistério do corpo feminino após a virgindade. É pouco se for para considerar que cheguei a ter medo de engravidar só para não passar pelo parto.


Sim, porque para mim parto era dor. Acredito que para a maior parte das mulheres.
Então, só para ter mais um registro para aquelas que estão grávidas agora, pela primeira vez, e que basicamente só escutam histórias de parto cesáreo como eu escutei, aqui vai a versão Casal Cuore do parto normal. Com anestesia. Com pitocina. Mais precisamente, parto normal induzido com anestesia.
Numa bela segunda-feira de outono, no qual a mamãe aqui já não estava mais trabalhando, fui com a minha mãe até o consultório do médico. A previsão do parto era 27 de abril, já era dia 25 e nada. Sem contrações, sem nenhum outro sinal. Tudo certo com a vida da dona Sara dentro do útero. Só que a ansiedade começava a pegar.
O médico havia me atendido na sexta e no domingo (que, aliás, tinha sido Páscoa), e descolado a minha placenta para acelerar o parto. Mesmo assim, Sarita se banhava faceira no líquido amniótico.
Naquela segunda-feira, ele me examinou novamente, e havia pouco progresso na minha dilatação. Se não me engano, a esta altura estava com 3 dedos de dilatação, mais ou menos o mesmo patamar do fim de semana inteiro. Ele me pediu para voltar mais tarde, após caminhar um pouco pela manhã e, conforme o que ele pensava que iria ocorrer, ele me internaria.


Eu já estava com 40 semanas. Meu aparelho fixo tinha resolvido quebrar bem no fim de semana. Então eu fui ao dentista, arrumei o aparelho, fui para casa, tomei banho, depilei as laterais da virilha (como pediu o médico) peguei as malas, peguei o quadro da maternidade, carreguei o carro, dirigi até o médico e lá pelas 11h ele me examinou novamente. Havia cerca de meio dedo de progressão. Ele fez a carta de internação, pediu para eu almoçar e disse que, assim que eu estivesse internada, que lhe chamasse.
Eu quis almoçar no Burguer King e ele me xingou. Acabei almoçando num restaurante natureba ali ao lado mesmo.
Hoje parece meio bizarro falar isso, mas fui dirigindo para o hospital, minha mãe ao lado, meu marido trabalhando. Liguei para ele contando, ele me pediu se já deveria sair do trabalho, eu disse “não, vai demorar”. Ainda bem que ele não me escutou.
Às 13h30 dei entrada no hospital. Coloquei aqueles aventais ridículos e a primeira coisa que a enfermeira fez após ver a minha situação pubiana foi me depilar totalmente. Justamente ao contrário do que o médico havia pedido. Ela também logo me colocou na pitocina – ou seja: me colocou uma sonda incômoda no pulso e começou a colocar para dentro do meu organismo um hormônio sintético que estimula o parto.


Quando o médico chegou, fazia apenas uns 5min que a pitocina estava ligada a mim, e eu já estava com 5 centímetros de dilatação – agora, oficialmente em trabalho de parto. Segundo ele, naturalmente, mas não dá para saber realmente, né? Ele aproveitou e furou a minha bolsa, outro estímulo ao parto.
Acho que ninguém está preparado para a quantidade de líquido que cabe dentro de uma barriga de grávida, até ver tudo o que sai nessa hora. É muita coisa. E não pára mais de jorrar.
A esta altura, eu estava deitada na cama, de avental, as pernas abertas, de frente para a porta, que basicamente não ficava mais fechada, e o hospital inteiro olhando as minhas partes. Tem vergonha? Não tenha filhos.
O médico então pergunta: quer tomar a anestesia agora? Minha mãe e eu mantínhamos uma agenda das contrações e, até aquele momento, elas estavam regulares e superhipermega suportáveis. Inclusive o termo suportável não é o mais adequado, porque nem doía para falar bem a verdade.
Aí a tonta aqui falou: “Não, não precisa. Vamos esperar mais um pouco, não tá doendo”.
E ele desapareceu. A pergunta é: onde vão os médicos quando desaparecem? Deve haver um fosso cheio de médicos jogando dominó enquanto seus pacientes sofrem. Só pode.
Porque começou a doer. Mesmo. Quando a gente ultrapassa os 7 centímetros de dilatação, começa uma dor forte, que dá náuseas. Isso, é claro, eu só sei porque a obstetriz veio me explicar, porque até então eu achava que estava com uma intoxicação alimentar e iria vomitar. Ou seja, contrações pegando e eu achando que estava com uma salmonelose da vida.


Então começamos a busca ao médico. Foi o Fernando quem finalmente conseguiu achá-lo – mas até ele vir, me examinar, me dizer que eu quis ser fortona, me encaminhar para a o centro cirúrgico, eu me deitar naquela cama tosca de que parece que se vai cair, o anestesista entrar, me preparar, mirar, injetar e a anestesia fazer efeito, foram alguns minutos de bastante dor. Acho que deve ter dado uma meia-hora.
Falando assim, parece pouco. Vivendo, parecia que eu tinha dado a volta ao mundo a pé.
A anestesia em si não doeu (era uma das coisas de que eu tinha mais medo, mas acho que com as dores do parto, nada disso era importante) Quando a anestesia fez efeito, eu deitei de lado na cama e comecei a quase dormir. Cheguei a sonhar!
Aí o médico e o anestesista conversaram das coisas mais esdrúxulas. Como esse anestesista dava uma anestesia bem baixa na coluna, como a anestesia relaxava o períneo e o parto ocorria mais facilmente, corridas e maratonas, ritmos de treinamento, viagens para correr. E eu ali, esperando a Sara nascer. Um momento no mínimo absurdo.
Bem, aí o médico me examinou e disse “vai nascer”. “Agora quando eu te disser, você faz força”.
E essa foi toda a preparação para o parto que eu recebi do médico.
Por sorte, minha amiga Fernanda, fisioterapeuta, havia me acompanhado com exercícios nos últimos meses e chegamos a ensaiar o parto. Então eu sabia direitinho onde devia fazer força e como respirar. Realmente, se o médico não avisasse, não havia como saber quando – porque depois da anestesia acaba a sensação das contrações, e é nesse momento que se tem que fazer força. Não é à toa que tantas mulheres tentam o parto normal e não conseguem, gerando cesáreas de emergência – não há grande preparo dessas novas mães, nem muito acompanhamento do corpo médico, sobre como agir na hora do parto. E é crucial saber isso.
É justamente esta a razão para eu escrever este ponto. Até a geração da minha mãe, a maioria dos partos no Brasil era normal e as parturientes tinham para quem pedir ajuda e treinamento, com quem tirar as dúvidas. Não era com seus médicos que as mulheres aprendiam o trabalho de parto, era com suas mães e tias e irmãs e primas e amigas, que abundavam em conhecimento prático da coisa. Hoje, para quem pedir?
Então, como agir? Anestesiada, primeira coisa, manter a calma. O médico pediu para fazer força, segura na lateral da cama onde tem apoios para as duas mãos, elevando ligeiramente o tronco. Puxa o ar pelo nariz e solta devagarinho pela boca, fazendo biquinho como quem sopra uma vela, e faz força lá embaixo como se estivesse… fazendo cocô!
Quando a mulher estiver com os tais 10 dedos de dilatação, e o bebê estiver bem encaixadinho, são duas, três, no máximo quatro respirações dessas e o bebê já sai. A Sara demorou mais um pouquinho, porque a minha bacia é meio estreita e o médico teve que usar o famigerado fórceps. Fiquei com medo, porque todo mundo já ouviu histórias sobre bebês com cabeças deformadas depois do uso dele, mas hoje a técnica usada pelo médico é bem menos drástica do que a anteriormente usada – o médico não puxa mais o bebê, só o ajuda a girar e encaixar-se durante as contrações. A Sara saiu sem nenhum arranhão.


Para não prejudicar muito a minha anatomia, digamos, traseira, o médico faz um corte no períneo – o músculo que a gente consegue controlar na região da vagina e do ânus. Dessa forma, quando eu fazia força, não expulsava todas as minhas dobrinhas anais na sequência, pois o músculo não estava mais íntegro. A famosa episiotomia.
E saiu gritando! Ah que som que toda mãe e pai esperam e que depois não podem mais ouvir! Ela saiu toda branquinha e foi levada para o nosso lado, onde foi limpa, pesada, medida, testados seus reflexos, envolta num cobertor bem quentinho.
Ela gritava muito, daí a gente ia conversando com ela “oi, Sara, a mamãe e o papai estão aqui”. Quando ela ouvia a nossa voz, ela parava de chorar e ficava procurando. Esse foi um momento muito marcante.
Quem a pegou primeiro foi o pai, que estava bem emocionado. Infelizmente eu não podia me mexer muito, então não temos muitas fotos desse momento. Enquanto eu estava lá fazendo força, o Fernando estava lá, de olhos fechados, rezando. Quando a Sara foi nascer, ele se levantou, não olhou, apenas apontou a máquina para o meio das minhas pernas abertas e tirou tantas fotos quanto achou necessário, sem nem olhar pelo visor da máquina. Ainda bem que ficaram boas!

Agora que a gente percebe o quanto ela já cresceu! Apenas 1 dia de vida – Dona Sara!

Daí ele a colocou próxima de mim e a gente se conheceu. O meu relacionamento mais importante começou ali.
Enquanto a Sara era medida, lavada, pesada, o médico ia trabalhando no final do meu parto. A placenta tem que sair, e é um processo natural. As contrações continuam após o parto, mas em bem menor intensidade, para expulsar a placenta e começar a redução do útero. Uma das maiores vantagens do parto normal para a mulher é este processo que o corpo faz naturalmente. O médico o ajuda massageando a barriga e depois recebendo a placenta (que é um material nutricionalmente riquíssimo, as vacas comem, outros bichos comem, mas o ser humano não come – ou come?). Ele também faz os pontos da episiotomia. Eu nem vi o que estava acontecendo, querendo ver a Sara, falando com ela, esperando ela chegar aos meus braços.
Então eu pedi que o médico tirasse uma foto com a Sara – quando foi me entregar, colocou no meu peito (porque ao bebê deve ser oferecido o peito na primeira hora de vida para estimular a produção de leite pela mãe) e a Sara imediatamente começou a fazer o movimento de sucção com a boca.
Veja a maravilha deste momento: um bebê que nunca tinha visto um peito na vida, olhou para ele e sabia direitinho o que fazer.
Não à toa, o médico começou a dizer “que maravilha é a natureza”, “que maravilha é a natureza”! rsrsrrs
A Sara chegou ao quarto nos braços do pai, ao meu lado. Não saí caminhando da sala de parto porque estava anestesiada (e só pude me levantar 6h após o parto, o que não é muito agradável após algumas horas deitada). Desde aquele momento, a Sara não nos deixou mais, apenas por uns minutos em que foi tomar banho no dia seguinte (mas acompanhou-a o pai).
O que eu tive depois disso, relacionado ao parto: depois das 6h de espera, eu tomei banho e não foi muito legal – tive muita tremedeira, como se estivesse com muito frio. Em casa, a cicatrização da episiotomia me doeu bastante, mas isso tem a ver com o tipo de cicatrização que eu tenho. Uns 7 dias após o parto, tive bastante cólica, ainda reflexo das cólicas que estavam reduzindo o tamanho do meu útero e que também estão relacionadas com a amamentação – como normalmente não tenho cólicas na menstruação, senti essas com bastante dor.
Esse foi o meu parto. Como foi o seu?

 

 

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