Eu adoro ler.
Eu já falei que a arte sempre foi a minha forma de mudar – e, entre todas, a literatura causou as rupturas mais importantes.
Ler era a minha janela para um mundo que eu ainda não conhecia. Não viajei para outros países até a vida adulta, mas quando fui já imaginava o que me esperava na Inglaterra: pubs, pints, todo o tipo de regra para não invadir o espaço do outro, dez mil palavras para chuva (não, elas não existem).
De todos os livros que eu GOSTEI de ler, que me ajudaram a ver um mundo que eu ainda não conhecia, apenas alguns MUDARAM a minha vida.
Apenas alguns ofereceram uma janela para um mundo realmente desconhecido, importante, esclarecedor. Eu consigo pensar apenas em 3.
Caso estivéssemos no EUA, falar que o Poder do Mito mudou a minha vida seria tão cliché que eu provavelmente escolheria outro livro. Mas me beneficio da pequena notoriedade de Joseph Campbell nas brazucas e digo em alto e bom som – este foi o livro crucial.
Vivi uma infância e adolescência BEM místicas: comunhão, crisma, jogo do copo, tarot, duendes, cristais energizados pela Lua e tudo o mais. Acabei chegando ao Poder do Mito por conta da Capricho que, numa matéria sobre o grupo de teatro Tablado, o listou como uma das leituras obrigatórias dos atores.
Eu queria ser atriz por todos os panos, então… peguei o único livro que estava disponível na lista e o devorei. Mal sabia eu que o impacto seria muito maior do que o esperado.
O Poder do Mito é na verdade uma entrevista de grande repercussão na TV, entre Joseph Cambpell (mitologista) e Bill Moyers. Virou livro para registrar todas as partes que foram cortadas para o documentário.
Foi como descobri que religiões do mundo inteiro compartilham motivos (como o deus que nasce de uma virgem), qual o papel que o mito e os rituais tem na nossa vida e, principalmente, como entrei em contato com a famosa frase de Campbell: “Follow your Bliss” – que acabou virando um mantra para mim.
Li mais de 3 vezes, cada uma encontrando novos significados na leitura. Foi este livro que acabou me levando ao racionalismo e humanismo.
Muito além de falar sobre mitologia, contudo, Campbell trata de um tema fundamental: por que viver essa vida? Qual o propósito em nascermos, crescermos e morrermos? Como fazer de cada experiência, de cada ser humano, algo tão maravilhoso quando a nossa unicidade?
Vai lá – este livro VAI mudar a sua vida também.
Um livrinho pequeno que virou filme – e que conta uma história de paixão e devastação entre um sogro e sua nora. O título em inglês, Damaged People, traz uma luz sobre o que mudou em mim.
Lá pelas tantas, a personagem principal diz “sou uma pessoa marcada. Pessoas marcadas são perigosas. Sabem que podem sobreviver”.
Foi como olhar para dentro de um monte de gente que estava ao meu redor e entender imediatamente a falta de empatia, escrúpulos, boa vontade. Imediatamente, soube que gente machucada era perigosa, e que o perigo residia na falta de limites para a dor.
Também que o amor tinha outras facetas – algumas, simplesmente muito cruas e dilacerantes.
Foi um livro perigoso enquanto pousou na minha biblioteca: tornou-me cínica ao romance. Passei a não acreditar que os homens amavam, ou que se apaixonavam. Passei a ver o mundo com um microscópio de precisão.
Em uma das mudanças, de forma a me livrar desse jugo, dei-o de presente a uma amiga.
Mesmo não estando mais comigo, sua sombra me persegue. Consegui me afastar apenas levemente dele. Foi um ensinamento para mim, cruel – mas preciso.
A gente tem que ter cuidado com pessoas marcadas.
Na minha primeira viagem à China, buscava um livro que retratasse a cultura chinesa em inglês. Acabei achando este por acaso, na prateleira inferior de uma loja de aeroporto. Nem a atendente sabia que havia por lá um livro sobre a cultura chinesa – em inglês. Parece que o livro queria ser comprado.
Meio como os anteriores, não poderia imaginar que estava encarando mais uma porta de mudança, neste caso, bem mais profunda e ainda vigente.
Abri o livro ainda na sala de embarque, e fui me deparando com respostas sobre as questões que estava vivendo, sobre disciplina, liderança, benevolência, respeito, dignidade, retidão. Não consegui parar de ler.
Devo ter devorado o livro em uns 2 dias – e não parei de falar nele para todo mundo em volta (= virei a chata do livro chinês).
Confúcio estava buscando o caminho ideal para os líderes do seu tempo – mas não poderia ser mais atual para os do nosso. Ele fala sobre como todas as coisas tem início e fim, raízes e galhos – e que entender essas causas e consequências é se aproximar do Caminho.
A mudança mais crucial, contudo, foi a respeito de liderança. Da minha própria e das pessoas ao meu redor. Se a raiz de tudo o que existe está dentro de mim, como passar pela vida culpando os outros pelas decisões tomadas?
O Caminho para uma liderança transformadora, ética, eficiente, benevolente e justa já tinha sido colocado há 2500 anos – era apenas usar o tempo para aprender.
Engraçado pensar nisso: mesmo na gestão de pessoas não há nada novo. Os problemas de milhares de anos atrás são os problemas de hoje. Estou lendo Liderança de Alto Nível, de Ken Blanchard (ótimo, por sinal) e os conceitos estão lá: o líder deve servir à equipe, tratá-la com respeito e ensiná-la, as pessoas querem saber porque estão trabalhando, e querem trabalhar para um propósito elevado.
Quer ser um grande líder?
Leia Confúcio.
Porque apenas após a investigação das coisas, o conhecimento pode ser completo. Apenas com o conhecimento completo, os pensamentos podem ser sinceros. Apenas com pensamentos sinceros, a mente pode estar em ordem. Apenas com a mente em ordem, o eu pode ser cultivado. Apenas com o eu cultivado, a família pode ser alinhada. Apenas com a família alinhada, o estado pode ser governado. Apenas com o estado governado, a paz pode ser trazida sobre todo o mundo.
E você? Tem livros que também mudaram a sua vida? O Glück Project traz uma série de livros que mudaram a vida de outras pessoas – dá uma passadinha lá!
Ps.: alguns dos links são afiliados. Quer dizer que se você vier a comprar os livros por eles, ajuda a esta família em sabático e ainda tem a chance de mudar a sua vida. E a gente agradece de montão.
