INDO À MURALHA DA CHINA – EM MUNTIANYU – DE TRANSPORTE PÚBLICO

Parecido com o que fizemos em Huaraz, aqui na  China não queremos tours.

Tours são caros, normalmente lotados de estrangeiros, eles lhe levam a lugares que talvez você não tenha interesse em ir. Nada contra quem gosta, e os tours contém também muita informação – nossas visitas guiadas no Peru foram fantásticas.

Porém, você paga pelo guia, pelo transporte exclusivo, para a agência. Não é uma escolha para uma família de viajantes apertados.

Estamos em Beijing (isso mesmo, ainda. Ficaremos 9 dias ao total aqui) e queremos ir à Muralha da China. Mais precisamente, queremos ir a Muntianyu, por dois motivos. Não é a passagem que eu visitei no ano passado, então terá aquela sensação de algo completamente novo sendo feito em família. E dizem que é bem conservada, cheia de natureza, menos turistas, um teleférico e um carrinho tipo tobogã para descer.

ônibus indo para muralha da china
Nada mal o ônibus, não?

Comecei a pesquisar e nos fóruns – inclusive do Lonely Planet, que normalmente favorece viajantes independentes – e todos diziam o mesmo: pegue um tour. O metrô não chega até lá. Ônibus são muito difíceis na China. Balela. Achei esta página aqui. Achamos a pessoa mais generosa do mundo no dia anterior. Ir para Muntianyu é fácil, e é assim que os chineses vão. O momento mais complexo da viagem foi determinar se o ônibus na minha frente (916) tinha ou não os caracteres que indicavam que era expresso. Também, se errássemos, apenas o tempo seria o erro – a versão não expressa no 916 leva 3h, ao invés de 1h10, para chegar a Huairo, onde fica a Passagem Muntianyu.

(Esta foi a primeira vez que eu percebi – talvez – uma chinesa querendo tirar vantagem de nós. Parada em frente à entrada do 916 expresso, ela tinha bilhetes na mão para algum outro ônibus, e ficava dizendo que aquele ônibus não era rápido. Deixou-nos sem ação por uns 30 segundos. Olhamos novamente, e lá estavam os caracteres. Seguimos.

Nada impede de que ela estivesse dizendo a verdade, contudo. Sabe, nós não falamos chinês.)

Você compra o bilhete dentro do ônibus, colocando o valor da passagem dentro de uma caixinha. Quando entrei, mostrei o nome da cidade e do ônibus para o motorista, e ele confirmou que era lá. Uma moça me perguntou onde eu ia, por que estava colocando tanto dinheiro (24 yuan – 12 por pessoa) – disse que era muito. Pode ser. Mas a página e o motorista do táxi que pegamos depois confirmou este mesmo valor.

Então foi entrar no ônibus e aguentar o trânsito de Beijing. Ônibus com ar condicionado, TV. Em bom estado. Miraculosamente, o motorista dirige com segurança.

Chegamos em Huairo, e em uma das paradas entra um chinês, calça cáqui, camiseta roxa, olha para nós e diz: aqui é a parada para Muntianyu, eu tenho uma mini-van. São 40 por pessoa – “child no pay”. Pelas recomendações da nossa amiga do dia anterior, a conta do táxi da estação de Huairo a Muntianyu deveria ser menos do que 100 yuan.

Estamos na onda de ir com o fluxo. Aceitamos. Descemos do ônibus.

A mini-van é na verdade um carro asiático de luxo. Banco de couro, aroma de jasmim dentro. Música – engraçado como ouvir música faz falta.

Ele começa a andar, e também dirige calmamente. Começa a tocar uma música, parece que conheço. Conheço! É um funk brasileiro. Daqueles horríveis, que libera bebida à vontade no camarote, apenas para fazer a festinha à noite na sua cama.

Era uma vez a bossa nova e o samba. Hello, mundo, eu sou o funk carioca.

Ele dirige por uns 30 minutos. No caminho, nos aconselha a comprar mais água – temos apenas 1 garrafa de 2 litros. Aponta um restaurante no caminho, se quisermos comer depois. Chegamos.

Entrada Muntianyu

Ele para o carro numa calçada, e nos mostra o mapa. Diz que temos que comprar a passagem de ônibus, depois a de teleférico. Para voltar, podemos escolher: teleférico ou bobsledge. Sugere que nos espere ali, por umas 3h, 3h30. Fechamos. Saímos do carro, ele vai conosco até a compra de ingressos. Despedimo-nos e começamos a nossa subida. É quase uma vila após a bilheteria: lojinhas, restaurantes, Burguer King. A China deve esperar pelo menos 10 vezes mais turistas do que os que estavam por ali naquele dia.

Logo mais à frente, depois de você resistir às barganhas irresistíveis de chapéus de palha e sombrinhas decoradas infantis, está a estação de ônibus. Mais à esquerda, um banheiro em boas condições.

teleférico muntianyu
Subindo no teleférico
Grande Muralha da China, na altura de Muntianyu
Sai do teleférico e vê essa vista linda! Grande Muralha da China, na altura de Muntianyu

O ônibus nos deixa mais próximos ao pé da montanha, onde devemos pegar um dos teleféricos disponíveis. Como escolhemos descer de tobogã, iremos à parte mais à esquerda de Muntianyu – e veremos a estação 6, 5, 4… Dizem que é a parte menos turistada. Subimos no teleférico, Sara e eu. Fernando vai no banco posterior. Quem já subiu num teleférico, sabe – ele não para: é dar uma corridinha e sentar. Um dos atendentes do lugar me ajudou a colocar a Sara lá. Não sei se teria a habilidade suficiente para me colocar e à Sara ao mesmo tempo. Quem já andou num teleférico, sabe também: não é a coisa mais segura do mundo. A única coisa impedindo a ambas de cair era o “se manter bem quietinha”, “se segurar bastante”, “não escorregar pelo buraco na nossa frente”. O teleférico foi subindo, e a coisa ficando cada vez mais assustadora. teleférico muntianyu muralha da china Eu não tenho medo de alturas, só queria ver quem tem aqui. Acho que deveriam pegar a trilha pela montanha. teleférico china beijing muralha muntianyu Na chegada, um pouquinho mais de ajuda. Tudo certo – papai até fez vídeos. Começamos a nossa caminhada pela Muralha andando para a esquerda, em direção ao final daquela sessão. É a parte de apenas subidas e descidas: escadas por todo o lado, sem nenhum trecho plano.

Impressionante: a Sara encarou bravamente o que muitos adultos tiveram dificuldade. Foi conosco até a última torre, uma fortaleza de esquina que é a junção de 3 torres em uma.

Grande Muralha da China, na altura de Muntianyu
Uma das torres de vigilância da Muralha
Muralha da China
A parte não “remodelada 100%” da Muralha

Nesta última, um aviso: não ultrapasse. Atrás do aviso, uma trilha para o que é a Muralha nos dias de hoje: com terra e árvores, flores silvestres, arbustos, passarinhos. Nada daquela Muralha “idealizada” que o Partido nos mostra nas sessões “turísticas”. Existem diversos tours que exploram estas partes da Muralha – afinal, ela é imensa, e apenas algumas foram restauradas e incrementadas para os turistas. Muntianyu te oferece os dois: Muralha para as fotos-troféu, e Muralha de verdade.

Andamos pelo lugar, fomos até a parte plana. Muita gente comemora a chegada em alto estilo – ou apenas vibrando!

E então nos encaminhamos para a saída. O tobogã nos esperava! O que NÓS não esperávamos era a emoção!

tobogã grande muralha da china
descendo de tobogã – uhuuuu

A Sara foi novamente comigo, num carrinho duplo, e o Fernando atrás, filmando. Prometo que quando sairmos da China coloco o vídeo aqui – sabe como é, o Grande Irmão não permite Youtube por estas bandas. E isso tem suas vantagens, no nosso caso.

Descer por aquela montanha, num carrinho que pesava menos do que eu, com minha filha entre as pernas, segurando o freio, deixando a velocidade chegar e o risco com ela, foi libertador.

muralha da china muntianyu vista
Vista linda da Muralha!

Todo o calor, o suor, o medo, a angústia, as dores, a ansiedade, a insegurança, foram ficando para trás, lá em cima na montanha, presos, como deveriam, naquelas sentinelas, bem no alto da montanha, onde até 200 soldados dormiam.

 

Chegando ao pé da montanha, uma família em êxtase. Caminhamos até a entrada, encontramos nosso chinês fofinho de camiseta roxa, entramos no carro e seguimos. Ônibus 916 expresso e logo estávamos em Beijing novamente.

muralha da china neblina poluição
A foggy day na Muralha

Um passeio memorável – e, segundo a nossa viajante-mirim, o mais legal até agora!

 

ps.: só para comparar. O nosso hostel poderia nos colocar num tour em um ônibus com mais cerca de 10 a 15 pessoas. 280 yuan por pessoa, incluindo os ingressos do parque (sem o teleférico e tobogã) – a Sara pagaria. A viagem que fizemos, com todos os ingressos, ficou por 540 yuan – uns R$350 pela cotação dos últimos dias. Não é uma pechincha, mas ei – eles dizem que quem pisa na Muralha vira um homem (e mulher) melhor. 😉

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