SOBRE A LIBERDADE EM VIAGENS – ou o dia em que nos rebelamos contra o establishment em Huaraz.

Tá certo que tem lugares em que só dar para chegar mesmo num tour organizado. Não adianta, tem que baixar a cabeça e ir com a manada. Seja por dificuldade de acesso, tempo curto ou imposição de força maior, às vezes a gente acaba pegando um tour organizado aqui, outro ali. Em Huaraz foi assim – também, a cidade ainda precisa de muita infra em transporte e vários locais são bastante afastados, tornando impeditivo o uso dos baratos táxis peruanos.

Fizemos três tours com um agência local (a Galaxia-fake, que se aproveita da imagem da sua xará), Lagunas LLanganuco, Chavín de Huantar e Nevado Pastoruri. A rebelião começou na subida do Nevado.

Para quem faz escaladas, subir os cerca de 1000 metros até o Nevado Pastoruri (a mais de 5000m de altitude) deve ser fichinha. Mas, para os dois comilões e sentadões brasileiros aqui, foi uma tarefa árdua. Digamos que eram 10 passos e uma parada com o coração saltando pelos olhos. Com certeza, nem pensar em passar 4 horas no dia seguinte subindo para ver a Laguna 69. Não há beleza no mundo que me faça passar 4 horas morrendo sem fôlego.

Imagem: O Vingador do Futuro, quando o Arnold e sua companheira caem sobre solo sem oxigênio da Lua.

Então cancelamos o tour com a agência Galaxia-fake e decidimos fazer um passeio alternativo, por conta. Ah, claro, antes a agência se ofereceu para fazer o tal passeio por mais de 2 vezes o valor real, com apenas 1 visita.

Pegamos uma combi em Huaraz com destino a Caraz – 10 soles. Negociamos um táxi para conhecer a Laguna Parón e o Cañon del Pato – 120 soles. Voltamos com outra combi (com o motorista maluco) para Huaraz – 10 soles. Total, 140 soles. A agência queria 317 soles, apenas para a Laguna Parón, e usando o mesmo transporte público!

Alguém poderia argumentar que combinar tudo com a agência é um conforto. Mas sabe o que pensamos? Que é uma prisão. Nada mais independente do que entrar naquela combi, falar com o motorista, o cobrador, o taxista, e aprender a ir conforme as coisas iam acontecendo. Enquanto a combi ia saindo, fui invadida por um sentimento bom, de ter recobrado as rédeas da viagem após 3 dias sendo levada com a manada. Nesse momento eu virei para o Fernando e lhe disse como eu estava achando tudo aquilo muito bom. E ele resumiu muito bem, como todo mundo que fala pouco:

A gente se sente livre.

ó pro establishment!!!

E nada como se sentir livre – “a alma sai do chão”.

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