Hoje meu corpo está cobrando o preço de muitos anos na frente do computador e nenhum exercício. Todos os músculos das minhas costas estão doendo, mais alguns da parte de trás do meu braço e descendo da minha bunda até o joelho também há dor. O pescoço mal baixa, tanta tensão acumulada aqui. Tenho bolhas nas duas mãos e ao lado das unhas das mãos há locais doloridos sem uma razão aparente.
Ontem o Casal Cuore e meus pais reiniciaram uma horta. Uma horta que já tinha sido horta, mas que havia deixado de ser horta há algum tempo. Revolvemos a terra, colocamos compostagem, adubo e calcário. Recolhi grimpas para iniciar a nova compostagem e fomos até a mangueira recolher carrinhos e carrinhos de mão do adubo mais antigo da Natureza: bosta de vaca. Isso nos tomou a tarde inteira, e enquanto trabalhávamos, o Sol descia manso pelo céu, esquentando o dia de Maio que já não devia ser tão quente.
Uma horta é um microcosmos, um mundo em si mesmo, um espelho de tudo ao seu redor, concentrado em um retângulo de 5 por 3 metros. Até começarmos a revolver a terra, ela estava dura, seca, meio amarelada, acinzentada, impermeável. Entrando o poder das enxadas e das pás, soltou-se, afofou-se, ficou linda, bem preta, com aquele cheiro agradável de terra – era já uma nova horta. Um pouco de atenção posterior, e já tínhamos um berço formado para a plantação que aguarda a chuva de amanhã.
Fiquei pensando que aquela horta era eu. Eu era aquela horta. Eu também não vinha me usando e vinha dura, impermeável, acinzentada. Não tinha tempo para o que era belo, para o meu marido, para minha filha. Estava seca para os amigos, a não ser quando algo muito arrebatador finalmente me tirava deste estado de horta não usada. Eu também vinha me secando no Sol forte e me compactando em mim mesma, ficando forte e firme e dura – mas totalmente infértil e improdutiva.
Engraçado como essa cultura de trabalhar bastante na verdade te faz tão pouco produtiva. Te faz improdutiva, monótona e não inovadora.
Eu precisava de uns golpes de enxada, bem forte e precisos, para revirar esta terra dentro de mim. Chacoalhar todos esses anos de resistência e me trazer mais contato com o ar, com a chuva, com a minha terra.
Eu sou essa terra agora: sou uma terra revirada, afofada, pronta para receber compostagem e adubo, ávida por uma pequena correção de pH para me deixar no ponto certo.
Já até consigo sentir as raízes das primeiras sementes que plantei neste período. Elas começaram a germinar sob esse Sol quente de um Maio atípico, e precisam apenas de água e tempo para crescerem.
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