Oi, Pedro,
Sinto muito, mas tenho que o deixar. Espero que esta carta encontre você – ou que você a encontre. Nesses últimos dias, ambas foram tarefas impossíveis.
Eu sei que você está se esforçando, que você está criando algo novo. Seus cookies de chocolate um dia farão o mundo muito mais gostoso, mais doce, mais carinhoso. Só que eu, meu querido, odeio cada grama de doçura que você assa.
Por vezes, não te encontrei atrás das pilhas de farinha. Cansei de tirar gotas de chocolate da minha gaveta de meias. Até sua mãe me ligou duas vezes tentando, em vão, que parassem de entregar manteiga em balde na sua casa.
Pedro, ela tem apenas uma geladeira. É no coração que sempre cabe mais um.
Nosso gato, pobre, está internado sem chance de sair. O veterinário disse que comer tanta massa crua grudou seus intestinos ou coisa assim. O nosso gato, Pedro! Lembra que o pegamos pequenininho, caído no chão, desamparado? O que fizemos com ele?
Mas o pior é esse excesso de doçura.
Não posso cerrar os lábios que me invade esse gosto doce. Quando choro, é um rio de xarope que escorre. Meu cheiro é tão doce que as crianças correm atrás de mim quando passo em frente a uma escola. Eu odeio isso. Odeio essa doçura insana que veio de você.
Quando você vai parar de fazer cookies, Pedro? Qual será o seu limite? Será que um dia você olhará finalmente para uma receita e se permitirá dizer: esta aqui sim? É perfeita?
Enquanto isso, Pedro, eu vou nadar no mar Morto.
Quero sentir aquela salinidade entrando por tudo e diluindo essa doçura irritante que você me trouxe.
Eu não odeio você.
Mas ahhhhhh, como odeio açúcar!
Acho que o Mar Morto deve ser ótimo, açúcar demais me deixa enjoada
gosto muito mais de uma pizza do que de sorvete 😛