Émerson,

Só passei aqui para te dizer tchau. Agora nem vamos mais nos ver, estou de mudança. Acontece que não gosto de deixar as coisas inacabadas, então estou acabando com você, após tantos anos.

Só para deixar registrado, eu gostava de você.

Quando cheguei aqui, era a minha companhia, a única ligação com o mundo de onde eu vinha. Você me apresentou a cidade que estava começando a conhecer, você me tirou de casa quando aquela ainda não era a minha casa. Olhando para trás, aquelas duas semanas agora nem parecem reais.

Como pode ser que, de um domingo a outro, uma pessoa possa mudar tanto? Em um domingo você estava sobre mim, me abraçando, corpo colado no outro, dizendo como estava feliz, caminhando de mão dada na feira.

No outro, me ignorando, dando risada com seus amigos, fazendo de conta que não havia acontecido. Sentando ao meu lado na mesa do bar, calmamente conversando com todos, como se não me conhecesse mais do que qualquer um deles.

Eu, atônita, seguindo a sua deixa, sem conseguir gritar para o mundo: esse homem é meu!

Foram 15 dias em que eu pensei que a vida tinha se ajustado. Casa nova, emprego novo, amigos novos em processo, um amor novo crescendo.

Fiz de conta, como fazem os que querem desesperadamente amar, que não via a sua truculência. Fiz de conta que não entendi quando me disse que se surpreendia por gostar de mim apesar de não ter o corpo perfeito. Fiz de conta que não me senti invadida quando me invadiu sem me pedir se eu queria.

Você, então, fique com seus amigos. Fique com seus vinhos caros, seus carros de luxo. Fique com essa sua ideia de que dinheiro é bom. Fique com essa vida luxuosa que conquistou.

Pensa que eu não sei o que ela esconde? Eu vim de onde você veio. Eu sei o que você passou.

Vou chorar para sempre a perda do que não aconteceu. Nada aconteceu – tudo poderia.

Talvez essa seja a maior lição: nós dois fomos isso.

15 dias e só.