Lima não tem rodoviária central. Aliás, nem sabemos se existe isso no Peru. Os ônibus saem dos terminais da empresas – no caso da Movil, de uma sala um tanto desorganizada, meio suja, cheia de gente. Mas com ônibus enormes, de 2 pisos, panorâmicos, tinindo de novos. Ah, e Marcopolo – o que imediatamente acendeu minha veia gaúcha!
A viagem levou cerca de 9 horas na ida e menos de 8 horas na volta – somando fatores como motorista-maluco e para-baixo-todo-santo-ajuda. Aconselhamos enormemente a viagem diurna em ambos os sentidos, pois as paisagens são extasiantes. Depois de sair do burburinho de Lima pela Pan Americana, o ônibus sobe por El Serpentin de Pasamayo, um desfiladeiro numa montanha íngreme de areia que acaba no ar. Depois, quilômetros de deserto e minas de sal, passando pelas entradas para a Reserva Nacional Lomas de Lachay e para Caral. A paisagem vai mudando de deserto para campos verdes mais ou menos no momento em que se deixa a Pan Americana, na altura de Patilvica. Os campos verdes dão lugares a montes e montanhas cada vez mais altos, enquanto a estrada vai seguindo o vale. Comunidades afloram às margens do rio de leito pedregoso que parece não querer se mover muito. Milho e pimentas são secos em extensos terreiros. Frutas são vendidas em barraquinhas razoavelmente organizadas.
Lá pelas tantas uma comoção no ônibus – o primeiro pico nevado pode ser divisado à distância. É tão iluminado que não se sabe se aquilo é nuvem ou neve – mas é neve.
Aí começam os precipícios. Já é noite e não se enxerga muito na estrada com buracos e cheia de pó. Meu coração disparou diversas vezes, pelo medo do desconhecido. O Fernando ao lado, sofrendo com a gripe, não ajudou. Muito menos o filme de terror que passava no serviço de bordo.
Chegamos safe and sound a Huaraz. A Lima, na volta, também – se bem que teríamos gostando muito de que o Ayrton Senna não tivesse baixado no motorista justo no El Serpertin.