UM CONSELHO QUE EU QUERIA NÃO TER OUVIDO

Volta e meia eu escuto recomendações dadas por profissionais da saúde a mim ou a outras mães que são baseadas em simplesmente nada: parece que há uma cascata de (des)informação que é passada adiante como uma corrente e por fim toma tom de verdade, mas que não passa de achismos e crendices.

Grávida ouve de tudo. Não coma chocolate, durma com o travesseiro entre as pernas, não tome café, beba malzbier, não coma brócolis, coloque cachaça na água do banho (!). Há um sem número de conselhos que circundam a gravidez e os primeiros meses do bebê.

Apesar de bem intencionados, como a maioria dos inquilinos do demo, boa parte deles é simplesmente folclórico ou ações que funcionaram para apenas uma criança, justamente aquela que é filha do conselheiro. Sem muita base de comparação, a tendência é generalizar – mas esta conclusão é somente provavelmente correta.

Eu já imaginava isso. Até mais, estava preparada. Para o que eu não estava preparada era a avalanche de conselhos folclóricos que viriam de fontes supostamente confiáveis. Médicos. Enfermeiras. Nutricionistas. Psicólogos. Profissionais da saúde em geral.

De todas as bobagens que eu ouvi, e que levaram bastante tempo no meu sistema até que fossem purgadas, a mais atroz e perversa tinha a ver com a amamentação. Veja: nós fizemos curso de gestante, 4 segundas-feiras à noite, como condição para que o Fernando pudesse assistir ao parto. Lá pelas tantas, o conselho:

– Se você oferecer o peito sempre, ele vai aprender a compensar as suas tristezas comendo.

Ou seja: se o seu bebê estiver chorando desconsolado, e você simplesmente não conseguir acalmá-lo com carinho, NÃO ofereça o líquido quente, docinho e cheio de α-lactoalbumina, um redutor de stress, formulado exclusivamente para aquele bebê. NÃO ofereça a ele a oportunidade de contato com o único mundo que ele conheceu por 9 meses. NÃO deixe ele se aquecer junto a você. Ele TEM que aprender SOZINHO a se consolar.

Sim, com 15 dias, o bebê, que nasce com apenas 25% do tamanho do cérebro final, deve supostamente já conhecer um dos mecanismos mais sofisticados da psique humana: o consolo próprio.

Foi então que eu li que os bebês na África não choram (e por que)  e finalmente a minha ficha caiu. Cansada e não consegue dormir? Peito. Fome? Peito. Ansiedade? Peito. Agitação? Peito.

Churrascaria e não consegue dormir? Peito

Depois disso, a Sara pouco chorou. E agora, mais grandinha, já não precisa mais de leite tão freqüentemente.

Mas ela sabe que, se precisar, peito.

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