Nesses dias entrei numa loja procurando uma calça para a Sara – uma que não fosse rosa. Tentei duas lojas e, na segunda, a vendedora, vestida de rosa, fachada rosa, arara exclusiva rosa, me perguntou: mas por que não pode ser rosa? Fiquei meio sem resposta, e veio apenas – é que eu gosto de ser diferente.
É, pode ser, mas não é só isso.
A partir do momento em que descobri estar grávida de uma menina, aí pelo 5º mês, começaram os presentes cor de rosa. Dá para se espantar com a gama de apetrechos bem delimitados rosa/azul que existem – desde chupetas, porta-chupetas, prende-chupetas, limpa-chupetas (existem?) até aspiradores de nariz, escovas, pentes, banheiras. Alguém poderia criar uma casa só de coisas rosa (ou azul, que seja). Isso sem falar nas roupas, cujo domínio do rosa torna cada dia mais pasteurizadas.
Quando foi que o rosa tornou-se unanimidade nas meninas? Minha mãe foi pródiga em manter as nossas roupas guardadas num baú velho que havia sido do seu avô. Agora, aos pouquinhos, a Sara vai as usando – a única rosa de que eu me lembro na verdade é florida: as flores são rosa. Mas há branco, verde e amarelo também, em bastante quantidade. Na verdade, a maioria das minhas roupas na época era bem cheias de cores: azul, amarelo, verde, preto, vermelho e, por que não?, rosa.
Meu problema com o rosa atual é que ele é rosa TOTAL. Não há mais nenhuma outra cor – só rosa e rosa e mais rosa e alguns outros tons de rosa, num ton sur ton completamente entediante.
Meu pai diz que essa avalanche de rosa enjoativo veio com a Barbie – até a Barbie, nem havia tanto rosa assim. O melhor, o rosa nem sempre foi cor de menina – na Renascença, era cor de MENINO! Parece que o código rosa = menina e azul = menino só apareceu nos anos 40.
Não é fácil fugir do rosa para meninas hoje. Ah sim, há uma opção que salta aos olhos: lilás! O crescente domínio do lilás – mais uma aberração da natureza.
Rosa = Yéca