Nova contribuição da Juliane Dias Gonçalves sobre a maternidade moderna. Ela escreve aqui com (in)certa frequência, sempre propondo uma reflexão sobre temas do nosso cotidiano: você deve ter lido a sua reflexão sobre como falar do trabalho com o seu o filho – ou filha. Ou sobre quem vence a guerra das mães. Neste novo texto, ela fala sobre desapego e a maternidade.
Na véspera do parto estava muito ansiosa e feliz. Porém um sentimento me afligia: estaria me despedindo da sensação de acariciar aquela barriga que se movimentava durante momentos estratégicos, me fazendo imaginar se estava tocando um pezinho ou o bumbum do bebê.
E esta sensação tormentosa veio me visitar mais algumas vezes: a mais recente foi quando não precisei mais ficar na beira da cama esperando ele dormir por medo do escuro. Me perguntei: “não vou mais me ocupar disso todas as noites? “. Segurar o primeiro dentinho de leite caído nas mãos também me deu um nó no estômago.
Mas nessa a gente vai comemorando a vida também: a primeira noite dormida, o alívio de se despedir das fraldas. Ou o sossego não ter que dar comida na boca, ou ainda de ficar socorrendo o “Manhê, já fiz… vem me limpar”. Não tem preço chorar na escola no primeiro debate de sustentabilidade da escola. O pequeno com microfone, sendo filmado e todo seguro de si! Fora aquelas coisas que ele disse, que foram mais do que uma aula para mim!
Nós, mães, fomos preparadas para lidar com este desapego todo? Afinal, ser mãe é conviver com pequenas mortes. Estamos sempre nos despedindo e lidando com perdas!
Onde está aquele menininho que passava horas ordenando carrinhos por cores no tapete da sala? Morreu quando aquele bebezão que espalhou achocolatado por toda a casa? Estariam enterrados na mesma cova do neném quentinho e cheiroso que ficava grudado no meu peito mamando e suspirando? Por que os brinquedos favoritos mudam tanto?
Será que este é o preço a pagar para sermos premiadas com as alegrias de testemunhar as grandes conquistas de nossos filhos, ou em maior extensão, da vida?
Meu consolo é que sempre dói para nós mas, para eles, é um mar de libertação e crescimento! Quem nunca se sentiu uma “mãe trouxa” ao constatar que aquele sofrimento antecipado antes do primeiro dia de aula ou de deixar o filho com a babá/avó foi à toa e que ele “ficou superbem?”.
E esse raciocínio de ruptura, como quem olha (dissimuladamente) de fora, me parece que deva se aplicar para qualquer etapa da vida. Se a gente não o aceitar, isso pode sair caro para os filhos.
Conheci uma doméstica que dava mamadeira para o seu filho de 6 anos. Ela dizia que a expressão facial dele se enchia de ternura estava se alimentando desta maneira e ele ficava tão bonitinho como quando era bebê. Ele era o caçula não planejado e o mais velho já tinha 17 anos. Certamente para ela, seria uma despedida definitiva das mamadeiras em casa e ela não queria romper com isso. Foi clara que adiaria ao máximo!
Em outro bairro da cidade, uma empresária, dona de loja, contava que sua filha de 26 anos, bióloga, não tinha limites. Só para ilustrar a última, levou uma jiboia ferida para dentro de casa para receber cuidados especiais.
O que seria um acordo temporário ficou permanente, e o bicho de estimação levou os pais a exigir que ela encaminhasse o animal para um destino adequado e lhe deram prazo. Mas ela os “ameaçou” dizendo que se fosse assim, passaria a ter uma vida independente, alugaria um apartamento com uma amiga, iria se sustentar e não ficaria sob o mesmo teto deles. O coração apertou e eles liberaram o réptil em casa. Parece com o caso acima?
É por isso que quero deixar meu sincero desejo de desprendimento e sabedoria à todas as mães. Que possamos valorizar e viver de forma menos dolorida os pequenos lutos do dia-a-dia e ajudarmos nossos filhos a se desenvolverem.
Para merecer um pequeno que já me corrige a pronúncia em inglês, tive que pagar com uma oferenda: meu espalhador de chocolate. Ou será que foi com o bebezinho que mamava?
Bom, enquanto não tenho a resposta, deixa eu preparar o café da manhã para meu futuro, futuro…
…o que será que ele vai ser, hein?
Esta semana que percebi que a Sara fala cada vez menos aquelas palavras meio tortas que são uma graça de criança pequena – uma das únicas que sobraram no vocabulário é ESTAUTA. Ao mesmo tempo, é um graça vê-la falando frases imensas, cheias de conjunções e advérbios. Ela está crescendo, se transformando, e eu me transformando com ela. E você? Como se sente quando uma parte que foi a sua criança já não existe mais?
Gostou deste texto? Compartilha com os seus amigos (os botões estão aqui do lado esquerdo!).
Deixei minha filha falar errado a palavra” vermelho ” ( ela falava avermelho ) porque achava bonitinho , e meu marido foi cúmplice . Ela falou errado até os 6 anos.
Uma vergonha ! Hahaha!
aqui em casa estamos firmes e fortes no estauta kkk pois é… não queremos que eles cresçam, né?
Ai, chorei!! Tá crescendo rápido demais! Tantas coisinhas já não faz mais! E tantas coisinhas vem por aí…..
Ser mãe é se desapegar…