Eu nasci em Porto Alegre, mas aos 8 anos me mudei para Lajeado. Lajeado fica no Vale do Taquari: em 1989, não tinha cinema, shopping, teatro, coisas a que me tinha acostumado na Capital. Odiava Lajeado.
Quando voltei a Porto Alegre para a faculdade, em 1996, Lajeado era um lugar desconhecido para os meus colegas. Lajeado? Sem importância nenhuma. De Vale, se começava então a conhecer o dos Vinhedos, que até hoje é o famoso.
Saí daqui novamente, e voltei este ano para fazer um período sabático. Sabe o que estou encontrando na volta? Uma cidade energizada, repleta de gente, com uma Universidade forte, teatro, cinema, shopping, restaurantes. Um Vale onde se faz música. O Vale do Taquari é outro lugar hoje em dia.
Muitas vezes, precisamos sair para enxergar onde estamos. Como se apenas após viajar, fôssemos realmente capazes de ver algo, com olhos de viajante – lembro claramente do taxista carioca que nunca tinha subido no Corcovado, ou daquele paulista que nunca tinha entrado no MASP (e entrou pela primeira vez comigo).
É fácil deixar-nos pegar pela rotina do que se tem que fazer, e esquecer a beleza que nos circunda. Há concertos gratuitos todos os dias a que não vamos. Exposições nas galerias que não vemos. Bibliotecas públicas que ficam guardando seus livros, esperando pelas poucas almas que entram pelas suas portas.
Mais comum, então, é não ver. Simplesmente ouvir falar, mas não ir. Somente isso explica porque, tendo vivido uns 10 anos no Vale do Taquari, eu ainda não conhecia o Viaduto 13. Em Vespasiano Correa, de Lajeado chega-se por uma estradinha de terra desde Muçum. No caminho, casas antigas, muros de pedra, plantações, e o Rio Guaporé à esquerda, marcando o passo.
Uma pinguela sobre o rio adiciona um pequeno arrepio ao caminho.
No local, alguma estrutura: bares, rafting. Muitas mountain bikes e o pessoal indo acampar. Um camping à direita leva a uma belíssima cachoeira em prateleiras.
De baixo, já é um espetáculo à parte. Mas sobe-se a lateral do morro por outra estradinha de terra, e encontramos o Viaduto em sim, em toda a sua glória, dormentes, trilhos, rebites, túnel e brita.
Lá de cima, uma vista para todo o Vale e a vertigem acompanhante, para sentir a vida entrando dentro das narinas, pulsando nas veias. Sentir o cabelo batendo no rosto, e o risco de vir um trem, a qualquer hora.
Um Sol de Junho morno nos surpreendeu no passeio – era o mesmo dia que se decidia a Champion’s League e a parte masculina do Casal Cuore queria ter ficado em casa. Ao ir embora, ele disse: que lugar maravilhoso.
Sim, e aqui, a 68km de Lajeado. Eu nunca tinha visto.
Há que se ter olhar de viajante, mesmo morando todos os dias no mesmo lugar. Reservar este olhar apenas aos 30 dias de viagem é privar-se da beleza ao redor, e convidar a chatice para dentro do seu mundo.
Abra seus olhos de viajante: a vida está louca para viver ao seu redor.
A descoberta do novo é tão bom!e as riquezas de cada cidade,vilarejo ou país é encantador.Obrigada querida sobrinha,pela oportunidade de descobrir através de vc tudo que é belo, e mais ainda a refletir tudo o que vc posta e escreve.Bjussss
obrigada, Mara 🙂 o seu apoio é super importante para mim!
Muito legal, Cristina! Ainda bem que você descobriu as belezas da sua região!
Abraços
Obrigada!!! Uma hora ou outra a gente tem que abrir os olhos, né? 😉