Mais um texto escrito pela Juliane Dias Gonçalves, mãe do Hilton e também diretora de relacionamento da Flavorfood e editora-chefe do site Food Safety Brazil. A Juliane é uma mãe moderna, que trabalha, mas espera que seu filho tenha uma infância rica e feliz, com presença e sem excessos. Vamos ao texto?
Trabalho fora, adoro o que eu faço. Sofri, como todas as mães para retornar ao ritmo, embora minha “licença maternidade” não tenha tido a fronteira marcante dos 4/6 meses. Mas nunca cogitei abandonar minha carreira.
Com quinze dias de nascimento, estava nos e-mails esporadicamente. Com 45 dias uma vez por semana saía para clientes e por dez meses não fiz nenhuma viagem, ficando em um ritmo bem restrito de viagens por um ano e meio. Foi meio parecido com o que fazem dentistas, advogadas, donas de salão de beleza, e outras mulheres não celetistas do meu convívio e que não puderam ou não optaram por deixar de trabalhar.
Claro que em um dia tive que me deparar com a pergunta dilaceradora de coração: “Mamãe, por que você tem que me deixar para ir trabalhar?”.
No meu repertório pessoal, toda vez que presenciei este diálogo desses, ouvia com unanimidade: “por que a mamãe tem que ganhar dinheiro para comprar as coisas para você, para a nossa casa, seus brinquedos, etc”. Sempre achei essa abordagem um tanto quanto perigosa!
Motivos:
- A criança pode se sentir culpada (ela saiu para comprar algo para mim, sou a causa da separação). Crianças são imediatistas, pode-se correr o risco inclusive de se ouvir um “mãe, então não quero mais brinquedos”
- Cultivo ao ódio pelo trabalho e separação radical da vida pessoal e profissional.
Esse segundo ponto é o mais importante para mim. Quando criamos uma pessoa para o mundo, esperamos que ela seja feliz em todos os aspectos da vida. Se na infância já vamos fazer um drama pessoal, uma semente de aversão ao trabalho, criaremos a associação:
trabalho = coisa ruim = separação da família = obrigação dolorosa -> somente faço por dinheiro,
estamos correndo risco de ver um adulto que carregue como peso as oito ou mais horas diárias de sua vida. Não quero isso para ele, definitivamente!
Assim, nas nossas despedidas, por algumas vezes nossa conversa foi mais ou menos assim: “Meu filho, todos nós temos que ser úteis, não é? Nós não precisamos ir ao médico, a casa não precisa ficar limpa, você não tem uma pessoa para dirigir para ir para a escola que gosta? Você não disse que a sua professora ensinou coisas que você adorou aprender? Todas essas pessoas estão trabalhando e se ajudando. Todo mundo ajuda todo muito. É muito importante fazer isso. Nós nos tornamos muito importantes fazendo isso”.
Nessa hora geralmente ele saía ilustrando um monte de profissões e aproveitávamos para falar sobre o que ele gostaria de ser quando crescer. “A mamãe tem muito orgulho de você que já sabe arrumar seus brinquedos, ajuda o papai a pintar a parede, a mamãe a quebrar os ovos (e aí a lista dos “trabalhos” que ele realizava na época). Você já está começando a trabalhar e a mamãe tem muito orgulho de você. Você sabia que a mamãe também ajuda outras pessoas com o trabalho que faz?”. Aí é a chance para falar da sua profissão e seu filho conhecer melhor a mãe. É uma conversa muito gostosa! E claro, também ao final se menciona: “Quando somos úteis recebemos uma compensação, que é o dinheiro, e podemos comprar muitas coisas que gostamos e precisamos com ele”.
Até hoje nos despedimos com muitos abraços, beijos arremessados e abanos agitados, seguidos de um “volte logo”, “vou sentir saudades”, “que dia você volta?”. Mas a pergunta “por que você tem que trabalhar?” não tem sido mais presente nas nossas conversas faz um tempo.
Qual será o resultado? Vamos ter que esperar alguns anos para ter certeza.
Ps.: quer saber como a Juliane faz festa de aniversário em casa? Passa aqui!
2 comentários sobre “O que eu digo para o meu filho quando saio para trabalhar”