O DIREITO À AMAMENTAÇÃO

A princesinha Antonella, filha dos nossos primos Erico e Luciene, nasceu linda e sorridente no dia 26/09/11, em Sorocaba, de parto cesáreo. Segundo a mãe, a bebê já veio ao mundo decidida, sabendo o que quer: quando tem fome, grita a plenos pulmões e só sossega quando é saciada. Mama bastante e só dorme quando está bem cheinha. Um bebê com todos os requisitos do gênero, mais uma alegria desta família que já tem a princesinha Gabriela.

Bem-vinda ao mundo, Antonella!

Como os pais têm fatores sanguíneos diferentes, o bebê corria o risco de ter icterícia, e foi o que se verificou ao nascimento. Procedimento de praxe, o bebê fez fototerapia para baixar o teor de bilirrubina e, após cerca de 5 dias, foi liberado para ir para casa.

Infelizmente, um dia após a liberação, o teor de bilirrubina subiu bastante, preocupando a pediatra, que pediu internação em UTI neonatal. Foi quando o martírio de uma família começou.

A maternidade do parto não dispunha desta UTI, então a Antonella foi direcionada para o Hospital Modelo da Intermédica em Sorocaba. Lá chegando com um bebê de uma semana, a mãe foi colocada inicialmente em uma sala com outras crianças de 6 e 7 anos, com as mais variadas viroses.

Justamente por não ser prematura, a Antonella foi colocada na UTI neonatal, porém em uma sala separada das demais crianças, sozinha. Apesar disso, quando o bebê foi internado, à mãe só foi dado direito a visitação 3 vezes ao dia (um bebê recém nascido chega a mamar 12 vezes por dia).

Para amamentar, a mãe teve que usar da influência da sua pediatra, que entrou em conflito com o setor de enfermagem do Hospital para garantir ao menos uma visita adicional à mãe no primeiro dia pela manhã. Com os seios intumescidos de leite, querendo amamentar como fez com a primeira filha por 1 ano e 4 meses, a Luciene segurou o bebezinho, todo mole, já meio sem vontade.

Na primeira vez, a Antonella não conseguiu pegar o seio. Mas carinhosamente a mãe tentou novamente e o bebê começou a mamar esse líquido precioso que a protege de tantas coisas que só se pegam em hospitais. Mamou por muito tempo, meio que se protegendo de hospitais insensíveis que poderiam separá-la da mãe novamente.

Vejam, esse não é um bebê prematuro. Mesmo se fosse, o método Canguru é o mais recomendado para auxiliar no desenvolvimento da criança. Ele ajuda a criança a regular as suas funções fisiológicas, promove a amamentação (tanto em volume quanto em duração) e fortalece o vínculo mamãe-bebê. Um estudo com 34 bebês prematuros com pesos entre 1,2kg e 2,2kg mostrou que o método Canguru é mais eficiente que a incubadora. O melhor: quanto menor o bebê, mais eficiente se mostrou o Canguru. Ele apenas atestou o que toda mãe sabe, recém–nascidos não devem ser separados de suas mães. Mais recentemente, uma revisão de 16 estudos, que somaram 2518 crianças, chegou a uma conclusão similar: o método Canguru reduz o risco de mortalidade, infecções, hipotermia e tempo de hospitalização, ao mesmo tempo em que promove o crescimento infantil, amamentação e vínculo mamãe-bebê.

É espantoso o quão despreparados, insensíveis e simplesmente inadequados podem ser os nossos serviços de atendimento aos neonatos. Justamente quando a vida inicia, e que cada pequeno passo se transformará em uma avalanche de conseqüências futuras, os nossos profissionais da saúde parecem desconhecer (ou simplesmente desconsiderar) procedimentos básicos que são adotados mundo afora. A carência de conhecimento gera situações ao nível do absurdo justamente quando a vida se faz tão frágil.

O Estatuto da Criança e do Adolescente diz no artigo 12: Os estabelecimentos de atendimento à saúde deverão proporcionar condições para a permanência em tempo integral de um dos pais ou responsável, nos casos de internação de criança ou adolescente. E, no artigo 10: Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a V – manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato a permanência junto à mãe.

No segundo dia de internação, o teor de bilirrubina havia caído bastante e, finalmente, à mãe foi concedido o direito de permanência com o bebê em uma sala que se chama… CANGURU! Isso não sem no dia anterior ela ter ouvido de uma das enfermeiras:” ainda bem que você chegou agora, se fosse há um minuto ela estava chorando desesperada”.

É, eu gostaria de saber como ela se sentiria caso fosse jogada em um planeta desconhecido, cheio de luzes e sons fortes, com cujos habitantes não conseguisse se comunicar e onde a única pessoa conhecida desaparecesse após 6 dias.

Muito se fala sobre o abandono de animais. Quem está pensando no abandono dos nossos bebês?

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