Quando a minha família ainda arrendava terras em Cachoeira do Sul, às vezes eu acompanhava meu pai nas suas estadas por lá. Eu tinha por volta de uns 8 anos na época e, como é de praxe, o que meu pai me apresentava eu achava normal. Achava normal comprar margarina não refrigerada, tomar banho de banheira com água cheirando a banha porque fora aquecida nas panelas em que se cozinhava (com banha), pescar no açude e destripar os peixes sem dó. Na época da castração, eu achava normal acompanhar a lida e, junto com o capataz e os peões, comer os testículos bovinos que eram jogados na brasa, ali ao lado da mangueira.
Hoje provavelmente não comeria nem amarrada.
Assim são as coisas com que crescemos, achamos tudo normal até que não as vemos por muito, muito tempo. Nada mais natural que descobrir uma série de excentricidades (na nossa cabeça) numa viagem a outro país, principalmente se este país, apesar de compartilhar o continente com o nosso, não compartilha quase nada de história e herança cultural.
Por exemplo, no setor comida. Todo mundo já deve ter ouvido falar de cuy, o “porquinho” da “índia” que nem porco, muito menos indiano é, que é uma iguaria para os nossos hermanos (não apenas peruanos, mas equatorianos, boliviano e colombianos também).
Mas e o gran finale deste pollo a la plancha, uma salsicha para arrematar? Mais “sustânça”?
No quesito sustânça, nada bate porém os huevitos que se comem na rua, para dar aquele ânimo andino…
… ou a pizza com um belo ovo mole no centro para finalizar a festança.
Tudo muito bem regado a Inka Kola, o refrigerante mais estranho já bebido pelo Casal Cuore aqui (tá certo, é que ainda não provamos o Guaraná Jesus, que é imbatível no nome e na cor de dondoca): é amarelo fluorescente e tem sabor de tutti-fruti. Pergunta: os incas tomavam cola?
Ainda no quesito alimento, mas passando ao armazenamento, poses para fazer a engenheira de alimentos aqui ter arrepios. Nada como um bom franguinho ao ar livre.
Falando em ar livre, que tal esta suíte com vista para o mar, num lugar onde os vizinhos nunca irão te incomodar, cercada pela vida selvagem e com muito, MUITO, MUITO guano para todos os lados??? Plus: intoxicante cheiro de amônia free!
Para encerrar, no quesito transportes: nada mais normal do que o ônibus parar no meio da rodovia (não no acostamento, na rodovia mesmo) para que os motoristas possam se abastecer de frutinhas para a viagem.
E, claro, contando com toda a segurança de um botiquin.
Ah, Peru, você nos conquistou com as suas excentricidades. Onde mais veríamos um desfile de mascarados que carregam um tripé de teodolito?